O PCP confrontou o Primeiro-Ministro no debate quinzenal, com a propaganda diária que o governo faz, escondendo o país real e os seu problemas. Jerónimo de Sousa afirmou que, o governo pode contar as mentiras que quiser, os trabalhadores e o povo irão derrotar o pacto de agressão e as políticas de desastre nacional.
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Debate com o Primeiro-Ministro que respondeu às perguntas formuladas pelos Deputados
Sr.ª Presidente,
Srs. Membros do Governo,
Sr.as e Srs. Deputados,
Sr. Primeiro-Ministro,
Em cada 15 dias que separam estes debates a vida está a dar-nos razão quanto à nossa análise e aos nossos alertas sobre as consequências para o País daquilo a que muito justamente denominamos «pacto de agressão» ao nosso povo e ao nosso País.
Esta semana ficámos a saber que o País atingiu um novo recorde de desemprego, com mais uns milhares de pessoas empurradas para a vida precária, muitas para a miséria e para a pobreza. A vida está a tornar-se um calvário para as populações. Em cima da redução dos salários e das pensões, temos os aumentos brutais dos transportes, da saúde, da energia, de tudo o que é essencial à vida.
Os nossos idosos morrem cada vez mais sozinhos e doentes. Obviamente, não estou a responsabilizá-lo diretamente por isso, mas, Sr. Primeiro-Ministro, estamos a construir uma sociedade que se descarta de tudo o que não seja lucro e negócio.
Torna-se um calvário para aqueles que, outra vez, na sociedade portuguesa, trabalham mas chegam ao fim do mês e não recebem o seu salário; para aqueles que não têm condições para deixar os filhos numa creche; para os que começam a ter de escolher entre comer ou comprar um medicamento, ou para aqueles que se deixam morrer sem condições para pagar o transporte para um hospital, de que são exemplo os casos vindo a público esta semana, dos doentes oncológicos.
Não é retórica! Estamos a falar da vida das pessoas! Estamos a falar da realidade, que não pode ser escondida com o matraquear da ideologia das inevitabilidades.
Neste sentido, coloco-lhe a primeira pergunta: com isto tudo a que estamos a assistir, está a ser resolvido algum problema nacional, algum problema estruturante, do défice, da dívida, do emprego? Diga, Sr. Ministro! Deixe-se de discursos de retórica, deixe-se do amanhã que nunca chega e falemos da realidade e da perspetiva que temos para diante.
(…)
Sr.ª Presidente,
Sr. Primeiro-Ministro,
Acusou-nos de falta de imaginação e, no entanto, procurámos falar aqui da vida das pessoas, dos seus problemas, dos seus anseios, das suas dificuldades, desse País real que o senhor nega, vindo aqui colocar, em vez de factos, números.
A verdade — e é indesmentível — é que não resolvemos nenhum problema estrutural da sociedade portuguesa e estamos a acentuar as clivagens, a aumentar a pobreza e o desemprego, a aumentar a recessão, a não criar mais riqueza. Esta é uma realidade incontornável, Sr. Primeiro-Ministro!
E não venha dizer que é falta de imaginação! Estamos aqui para quê? Para discutir o quê? O sexo dos anjos, Sr. Primeiro-Ministro?! Não! Estamos aqui para discutir os problemas das pessoas, dos portugueses! É isso que estamos aqui a fazer!
Passo a uma segunda questão, que decorre desta.
Diz o Sr. Primeiro-Ministro que o «pacto de agressão» será cumprido, custe o que custar (creio que estou a corresponder à expressão que usou), mas é caso para perguntar: vai custar a quem, Sr. Primeiro-Ministro? Está a pensar acrescentar sacrifícios aos sacrifícios que o nosso povo está a fazer? Ou está a pensar naqueles que pagam pouco ou não pagam nada, num rebate de consciência que nem este nem o anterior governo tiveram, já que, conforme provam os estudos da União Europeia, quem está a pagar a austeridade, quem está a fazer sacrifícios são, fundamentalmente, os que menos têm e que menos podem?
Ou está a pensar nos banqueiros? Eu estava a ouvi-lo falar daqueles que viveram acima das possibilidades, que levaram o País a esta situação, e é curioso que não referiu uma única vez aqueles que tiveram as principais responsabilidades pela situação que vivemos hoje: o capital financeiro, o sistema financeiro! Sistema financeiro que levou a que ainda hoje o País esteja a pagar por isso, designadamente em relação ao BPN, em relação a esses negócios escandalosos, em relação a esses buracos monstruosos que o povo vai ter de pagar, ainda por cima com o Governo a disponibilizar-lhes 12 000 milhões de euros para resolverem os seus problemas!
Está a pensar em quem, Sr. Primeiro-Ministro, quando diz custe o que custar? É porque vai ser o povo português vai ter de comer o pão que a troica (ou as troicas!) amassou. Precisamos desse esclarecimento, Sr. Primeiro-Ministro, porque, de facto, obrigar os mesmos de sempre a pagar não resolve nenhum problema, aumenta as injustiças.
É por isso que, quer queira quer não, de 15 em 15 dias, e sempre que possível, havemos de falar aqui destes problemas, porque estamos a falar dos problemas das pessoas, estamos a falar dos problemas dos portugueses e de Portugal. Quer queira, quer não, Sr. Primeiro-Ministro! Custe a si o que custar!
(…)
Procurarei cumprir o tempo de que disponho, Sr.ª Presidente.
Sr. Primeiro-Ministro, há de reconhecer que sempre, mas sempre, definimos as responsabilidades da situação pelos sucessivos governos que tivemos nas últimas décadas e, portanto, sobre isto estamos conversados.
Em relação a uma afirmação que fez, de que o Governo vai cumprir os compromissos que assumiu com a troica, e vai cumprir com honra, quero dizer-lhe, Sr. Primeiro-Ministro, que a maior honra que um governo pode ter é a de governar em conformidade com aquilo que disse em campanha eleitoral, é fazê-lo no concreto, no seu País.
Fique sabendo, Sr. Primeiro-Ministro, que este Governo, possivelmente, não vai resolver os problemas nacionais. Estou de acordo consigo: será o povo português a resolvê-lo — não o seu Governo —, consigo, sem si ou contra si!