Intervenção de Alma Rivera na Assembleia de República, Reunião Plenária

Sem alternativas e, para lá da retórica, o Chega é profundamente cúmplice com as opções de fundo do governo

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Ao anunciar uma moção de censura com meses de antecedência, o proponente da moção é o primeiro a desvalorizá-la.

Na verdade, nem seria necessária uma crítica de esquerda a esta moção, porque a direita se encarrega disso.

A política do governo PS deve ser criticada e censurada, sim.

Do estado do SNS à situação vivida na Escola Pública, da miragem que é o direito à habitação às dificuldades que limitam a justiça, a política do governo não está a resolver as causas dos problemas e, a cada dia que não o faz, eles apenas se agravam.

Salários que não chegam ao fim do mês, pensões de miséria, a conta do supermercado que aumenta enquanto o cesto diminui.

O escândalo das margens de lucro.

Este governo tem servido objetivamente a concentração de riqueza, o perpetuar das desigualdades e da pobreza.

Chamam-lhe a política de contas certas enquanto somam excedente e recursos desperdiçados.

Mas qual é a alternativa do Chega?

É um aumento dos salários e pensões? Não é. 

Aliás tem sucessivamente estado contra os aumentos do Salário Mínimo Nacional que propusemos.

Propõe o Chega uma política fiscal mais justa?

Não! Vimos há uns meses: 

Está contra a tributação efetiva sobre os rendimentos mais elevados. Está contra o fim das borlas fiscais. Não se incomoda que os lucros gerados em Portugal não sejam cá tributados.

É ver o silêncio cúmplice quando se fala dos donos disto tudo.

Para a saúde, a alternativa do Chega é o investimento no SNS e valorização dos seus profissionais?

Não, e o programa eleitoral do Chega dizia mesmo ao que vinha, era para entregar aos grupos privados.

Qual é a alternativa que propõe para a Habitação?

Revogar a lei dos despejos? Não! 

Sobre o +Habitação criticam a transferência dos recursos públicos, que é dinheiro de todos os portugueses, para atribuir novos benefícios fiscais? Também não, até dizem que é preciso financiar mais o grande negócio da habitação. Esta na vossa moção. 

E para a educação, o que quer mesmo o Chega? 

A alternativa não é uma Escola Pública de futuro, com mais qualidade, mais inclusiva, com profissionais respeitados. 

O que propõem é o regresso ao passado e a privatização da educação, tal como escreveram no seu programa.

Falam das famílias que não conseguem pagar os créditos à habitação.

Foi por isso que estiveram contra a diminuição e estabilização das prestações? Acham que anda toda a gente distraída e ninguém se lembra de como se posicionaram quando o PCP propôs que fosse a banca e os seus lucros a suportar estes aumentos?

Não têm pudor de defender tudo e o seu contrário, consoante o vento sopre.

O que defende o Chega é uma alternativa a esta política onde? Em quê?

Privatização de empresas e setores estratégicos, concentração da riqueza em grandes grupos e empresas, benesses para uma minoria, entrega da saúde ao negócio da doença…  Em que é que difere verdadeiramente? No ritmo, na intensidade? No estilo?

Estão contra tudo o que beliscar o poder e os lucros dos grupos económicos e isso viu-se nas várias vezes em que o PCP propôs controlar ou fixar preços, seja do cabaz alimentar como dos combustíveis. Tal e qual o PS faz.

Os problemas do país são apenas motivo para esbracejar, mas nunca para resolver. Instrumentalizam a desgraça dos outros, aproveitam as dificuldades em proveito próprio.

Esta moção de censura é prova disso: não quer resolver nada, não serve para nada, apenas para a disputa partidária à direita. 

Sem alternativas e, para lá da retórica, o Chega é profundamente cúmplice com as opções de fundo do governo. 

O país não precisa disto, srs deputados. 

Precisa de soluções e de justiça social. Precisa de uma política verdadeiramente ao serviço dos trabalhadores, do povo e do país.