Reconhecimento oficial de direitos lingu?sticos da comunidade mirandesa<br />

Senhor Presidente,Senhoras e Senhores Deputados:? com grande satisfa??o que nos associamos aos objectivos do Projecto de Lei n? 534/VII, oriundo da bancada do Partido Socialista, no sentido do reconhecimento oficial de direitos lingu?sticos da comunidade mirandesa. Quando afirmamos que "a falar ? que a gente se entende" o que afinal queremos significar ? que ? com o falar que n?s nos constru?mos ou des-construirmos - como indiv?duos, como comunidade ou como povo. Uma l?ngua ou um "falar" constituem um dos principais factores da constru??o hist?rica de qualquer comunidade e da sua rela??o consigo mesma ou com os-de-fora. Ou seja: com a sua exist?ncia concreta. Lembremo-nos que j? para os gregos uma divis?o dicot?mica do mundo levava-os a utilizar a palavra "b?rbaros" para designar todos aqueles que n?o falavam a l?ngua grega, e bem sabemos o sentido conotativo, e pejorativo, que a palavra adquiriu hoje no senso comum. N?o raramente, a l?ngua tem vindo a constituir ela pr?pria um pilar fundamental de resist?ncia a v?rias formas de opress?o - e veja-se, neste dom?nio, o papel desempenhado pelo galego, pelo basco e pelo catal?o na moderna Espanha franquista. Mesmo fora da no??o de "Estado" e de "territ?rio", e em condi??es quase sempre adversas, e mesmo tr?gicas, o povo "Rom" - aquele que quotidianamente designamos por "ciganos" - tem encontrado na sua l?ngua um espantoso factor de unidade e de coragem, que nem os campos de concentra??o do nazi-fascismo conseguiram esmagar.Se me socorro de todos estes exemplos ? porque somos de entendimento que este projecto-de-lei aborda uma mat?ria que n?o pode ser considerada nem "folcl?rica" nem "menor". Este projecto corporiza, sem quaisquer d?vidas, aspira??es antigas e sentidas da comunidade mirandesa, e por isso a ele nos associamos sem quaisquer reservas. Neste sentido rigoroso, n?o h? l?nguas minorit?rias - h? l?nguas. O desaparecimento de qualquer uma torna-nos a todos mais pobres, e a l?ngua portuguesa, como s?tima l?ngua falada no mundo, assume neste dom?nio particulares responsabilidades. N?o podemos permitir que a sobreviv?ncia do mirand?s tenha at? agora sido tornada poss?vel por for?a do isolamento geogr?fico, ou do alheamento pol?tico que durante gera??es se abateu sobre a regi?o - e que, agora, em nome de uma certa forma de "progresso", e de "desenvolvimento", e de "abertura ao mundo", o mirand?s termine ingloriamente esmagado. Tratar-se-ia de uma tr?gica ironia, ? qual, diga-se, n?o tem escapado grande parte do nosso patrim?nio. Esperamos sinceramente que o presente projecto de lei n?o se esgote em si mesmo, e n?o se reduza a um eleitoralismo de circunst?ncia que ningu?m perdoaria.A aprova??o do presente projecto de lei pode constituir ou um marco hist?rico na defesa e na assun??o da dignidade da l?ngua e da cultura mirandesas - ou o in?cio de um novo ciclo de frustra??es a que, infelizmente, muitos transmontanos se habituaram. Seria de excessivo mau gosto que o presente projecto de lei viesse a constituir mais uma pe?a do "marketing" pol?tico do governo do Partido Socialista...Disse.

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