Não sou tão radical como Ludgero Marques, presidente da AEP (distinto militante e apoiante do PSD), quando afirma que o Governo, para justificar o avanço da ligação de TGV entre Lisboa e Madrid (via Elvas e Badajoz), teve de arranjar um bom embrulho, recheado com outras ligações em alta velocidade ao vizinho ibérico, divulgando, para dar um ar de seriedade e de compromisso ao acto, um vasto conjunto de datas.Não sou tão radical porque ainda consigo fazer um esforço para acreditar minimamente nas palavras dos actuais governantes e até aceito que pode haver um compromisso firme para ligar (em alta velocidade, AVE, não em TGV) o Porto a Vigo. Quanto às outras ligações, sabe-se o que sobre isso pensa Espanha, basta ler os jornais espanhóis, percebe- se bem que a regra do PSD e do CDS é "quem vier depois que feche a porta"…O que espanta na ligação a Vigo é que, aparentemente, o Porto de Leixões fica de fora (ou pelo menos à margem) da interconexão directa com essa linha. Só esta inacreditável possibilidade exige, por si só, uma clarificação rigorosa da intermodalidade que o "anúncio" da ligação a Vigo prevê com o transporte marítimo e aéreo, e também com as futuras ligações anunciadas para sul do Porto. Até para assim evitar algumas cortinas de fumo com que se está a tentar rodear esta discussão…Mas o que mais espanta neste verdadeiro show-off mediático do Governo é o silêncio de Rui Rio, presidente da Câmara e dirigente do PSD. É que o compromisso (informal, é certo) de ligar, em simultâneo, as duas áreas metropolitanas do país a Madrid foi rasgado e deitado ao caixote do lixo pelo Governo PSD/CDS. Estão a ver Rui Rio, que gosta de passar por homem frontal, a assobiar para o ar fazendo de conta que isso nada tem a ver com os interesses da região.