&quot;Rejubilemos, que livro já temos&quot;<br />António Abreu na &quot;Capital&quot;<span class="titulo1">

” Veni,vidi,vidi,vidi...bom, fico por aqui”. Foi esta a mensagem essencial do Dr. Santana Lopes, urbi et orbi, com a publicação do livrinho.

Não para mostrar obra, que o vici dá trabalho mas para se queixar da herança dos outros (nós, a esquerda), que lhe deixou uma pesada herança. Vá lá, vá lá, não disse que a herança era do “gonçalvismo” (para os mais novos: entidade histórica para onde, a partir de 1976, muitos responsáveis políticos sacudiram a água do capote, quando tinham que justificar os seus próprios fracassos). E vá lá, vá lá...escreveu um livro! Folguem os munícipes, regresse o Carnaval.

Rejubilemos, que livro já temos.

Regresse a paz aos espíritos dos que andavam suspirosos pelo voto de mudança que lhe tinham dado há15 meses. Afinal, valeu a pena.

Depois da ameaça com eleições antecipadas, que fez recuar os mouros e pôs o gentio na ordem, finalmente deixaram-no trabalhar!

O ministro Lynce teve uma saída de leão: deu instruções para se reduzirem os numeri clausi em 10 % “para bem do ensino superior no interior”. Para bem das privadas dizemos nós. Para bem do interior insistiu o 2º ministro da Educação.

Não, não disse que a quebra de candidatos tambem fosse culpa do gonçalvismo. Porque se lembra, vagamente, que na altura até se fizeram muitos filhos, no entusiasmo da Revolução. As quebras demográficas resultantes da quebra de natalidade, terão alguma coisa a ver com os feitos de sucessivas camadas de políticos que se fartaram de trabalhar para rasgar os horizontes europeus da modernidade e da excelência, e que foram tendo tempo para escrever livros, e multiplicar presenças mediáticas onde falavam desde o sub-solo de Lisboa até aos nitrofuranos dos galinácios de aviário, passando pelo futebol e se expunham colunavelmente aos repórteres fotográficos das revistas côr-de-rosa ,que preenchiam parte substancial, por exemplo, da revista de imprensa da CML.

Fechem, pois as escolas à rapaziada. Eles que vão estudar para as privadas, para o que se criou, em tempos, o numerus clausus nas públicas. Ou então continuem a rumar para o interior. Sempre dão uma aparência de desenvolvimento regional. E não ficava bem para a implantação regional do PSD e do CDS/PP, que esta quebra de candidatos se traduzisse na quebra de rendimentos que aí costumavam deixar em alugueres de quartos, refeições, artigos escolares e comércio em geral. E não pudessem cumprir sucessivas promessas de abertura de novos polos, de criação de novas universidades.

Agora eles e os que os antecederam, ficaram expostos a um novo interesse jornalístico. A descentralização do ensino superior afinal, com excepções, não contribuiu para alterar positivamente, o tecido económico local, criar novas empresas com novos diplomados em gestão de empresas e muita, muita inovação tecnológica, que nos punha no pelotão da frente. E desfiando razões, talvez se identifiquem os beneficiários com os fundos “europeus” destinados às tais alterações estruturais que nos meteriam na vanguarda da competitividade, rompendo esta asfixiante e atávica autarcia. Agora tirem-lhes o retrato, um atrás do outro, com a lista das empresas de que foram administradores, das que compraram ao Estado para diminuir o deficite, do papel de plataformas giratórias que aceitaram fazer para as passar para as mãos de terceiros. Apontem-lhes o dedo como gastam tempo a falar dos agentes da GNR que se deixariam subornar. Os nossos capitães da indústria que, não só não combateram a desertificação, como deixaram as nossas empresas nas mãos do investimento externo beduíno.

Agora fechem as escolas aos estudantes, ponham-nos a pagar mais para tirarem cursos de papel e lápis para se formarem sem saídas profissionais, desbaratando o que de mais precioso temos para tirar o país da depressão: uma elevada qualificação.

Com tais governantes é natural que se acentue a descrença em relação às situações e “aos políticos”, metendo injustamente tudo no mesmo saco, e dando cobertura aos que aproveitam para contrabandear, no meio da confusão, a redução da segurança social, um código contra o trabalho, intenções escabrosas quanto ao ensino superior e também a estafada “reforma do sistema político”, mézinha para as desilusões, mas que assume uma grande gravidade se se concretizar nos propósitos do PS e PSD formatarem os outros partidos à sua imagem e semelhança, retirando aos seus militantes o direito de se auto-organizarem livremente por comunhão de ideais, e com as regras que entendam adoptar em conformidade, e de perderem a sua independência de auto-financiamento por quem os apoia em vez de se sentarem à mesa do Orçamento como acontece com eles próprios.

No meio da recessão quase daria vontade de sorrir com tais protagonistas de opera bufa, se o assunto não atingisse tamanha gravidade.

4. Gravidade que se estende à guerra que, mesmo sem ser declarada, já começou em terreno do Iraque, guerra que já estamos a pagar com a espiral de aumentos que decorrem dos consequentes aumentos do petróleo e que os milhões de portugueses estão a pagar nos bens essenciais, nos encerramentos de empresas por outros patrões, sem rosto, que entenderam dar à sola para outros locais.

Sim, porque é tragicamente caricato que países como nós, esprimidos em nome do tal Pacto de Estabilidade, estejamos a subsidiar a guerra que o Sr. Bush entendeu fazer, em nome dos interesses do império. E tenhamos que passar pela vergonha de ver os representantes do Estado português a subscreverem uma tal agressão, uma tão grande irresponsabilidade histórica, de consequências imprevisíveis para a Humanidade e para nós próprios.