&quot;Quanto pior &#8211; pior&quot;<br />Ruben de Carvalho no &quot;Diário de Notícias&quot;

Não será necessário trabalho exaustivo para descobrir uma crónica de Vasco Pulido Valente em que o mal--humorado comentador aplique uns ralhetes à esquerda em geral e aos comunistas em particular por, em seu entender, defenderem uma política de «quanto pior - melhor».

Seguramente dirá ele que os malteses da esquerda, indiferentes ao padecer da pátria, esfregam as mãos ante tropeços de qualquer governação de direita para capitalizar descontentamentos que assegurem compensatórios resultados eleitorais. Falta de patriotismo, responsabilidade, sentido de Estado e outras mazelas congénitas - acusará.

Ora eis senão quando, na sua epístola de ontem, Pulido Valente recomenda a toda a gente em geral e à oposição em particular que façam a subida fineza de não incomodar o Governo dos drs. Santana e Portas apontando para tanto duas razões: a primeira, que eles próprios se encarregarão de uma adequada trajectória suicidária, segundo, que assim ficará a pátria definitivamente livre de tão indesejados personagens, esturricados no fogo dos seus próprios disparates.

Resumindo, cesse tudo quanto intenda o país político, porque a musa no poder se encarregará de escrever a sua própria tragédia. Ela própria, diz Vasco, garantirá o pior; e isso será o melhor. É, já se vê, uma questão de ponto de vista. Porque, do ponto de vista do povo em geral e quanto a este Governo, quanto mais - pior. E quanto pior - pior.