&quot;O Novo e o Velho&quot;<br />António Abreu na &quot;Capital&quot;

A actividade do jogo, sob a forma de Casino, transformou-se em grande objectivo para a nova maioria, em LisboaO jogo existe em várias casas de Lisboa, clandestinamente, à revelia da legislação existente sobre a matéria. Mas para garantir o objectivo da nova maioria na CML, fez-se legislação própria para o permitir para Lisboa, a pretexto de que iria financiar a reabilitação do Parque Mayer e iria contribuir, envolvido num casino, para reanimar esta zona, e dar outras possibilidades aos artistas portugueses, particularmente àqueles que, com os respectivos empresários ali fazem resistir o teatro de revista. Sempre nos opusemos ao Casino, fosse onde fosse. Não porque desconheçamos que pessoas como o Dr. Assis Ferreira, conseguem, para bem do turismo e dos artistas portugueses, gerar situações que o permitissem. Não porque queiramos fechar os olhos à realidade do jogo que, sob diversas formas, envergaduras e consequências estão presentes na sociedade portuguesa. Não por considerações de natureza moral ou estética. A realidade é que, com as perspectivas do actual governo, a economia acentuará o seu carácter de casino. Isto é, não passará de uma plataforma de fortunas, passando das mãos de uns para os outros, ou que, em circunstâncias diferentes das dos casinos, são colocadas offshore, para se furtarem aos impostos e responsabilidades de investimento interno.Transformar o jogo em paradigma nacional, nas acuais circunstâncias históricas, quando se cortam nas despesas públicas, se lança o pânico que trava o investimento interno, se precarizam as relações de trabalho e se reduz o alcance de funções sociais do Estado, em que diariamente fábricas são fechadas com os dramas sociais e económicos que daí resultam, em que de múltiplas formas se alimenta a recessão e o arrastar do país neste vórtice sem fundo, não é uma atitude positiva de contracorrente, de criação de outras perspectivas e comportamentos económicos, sociais e culturais, base de um modelo de desenvolvimento alternativo. Em que em vez da circulação beduína de capitais, se valorize o valor acrescentado, o papel de trabalhadores bem remunerados, com empregos e famílias estáveis, com boas formações, o investimento seleccionado e produtivo, que nas actuais condições de retracção privada, tem que ter no Estado um papel leader. Hoje os paradigmas têm que ser outros e não os das velhas gerações de capitalistas que, com excepções, ignoraram a necessidade de inovar e aumentar a produtividade e hoje quando são confrontados com a situação nos querem “enfiar o barrete” de assimilar o ganhos de produtividade à redução do valor real dos salários, ao trabalho sem direitos. Mentira grosseira que se vai propagando, mesmo através de personagens que, com um mínimo de formação, sabem que era exactamente o contrário que se deveria passar.Quando o Dr. Santana Lopes fala, como uma vez mais fez em entrevista na passada 5ª feira na RTP, das pessoas do passado, nas mudanças, que estariam em curso, conduzidas pelas “novas” gerações (de que ele, o Dr. Durão Barroso, a Dra. Manuela Ferreira Leite seriam exemplos), devia olhar para si, para as camadas que hoje efectivamente têm expectativas em relação à sua pessoa, que não basta o populismo nem o estilo descontraído, para ser diferente e novo. O invólucro mediático de um personagem não basta para introduzir o corte. Do Dr. Durão Barroso ficará a imagem do porteiro das Lages, da dama das Finanças, a de quem nos quis levar quase tudo.Que os ricos e poderosos estejam a ser atingidos pelo rigôr da justiça, ficará claro no dia em que se saiba também quem tem as fortunas offshore, quem criou sociedades-fantasma para serem titulares das suas contas nesses paraísos fiscais, quais os autores do branqueamento dos dinheiros sujos, os que se furtam aos impostos em larga escala, para depois o seu governo não vir revelar “impotência” na matéria, aproveitando para aumentar propinas, taxas moderadoras, etc, para que o regabofe dos verdadeiros donos deste país continue. Esse será um tempo em que efectivamente se deixará de pactuar com coisas ocultas. Lisboa tem outras ambições. Outros paradigmas.

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