&quot;Não às Portagens da CREL&quot;<br />Bernardino Soares na&quot;Capital&quot;<span class="data">

26 de Dezembro de 2002

A decisão do governo de impor a partir de 1 de Janeiro o pagamento de portagens na CREL é profundamente lesiva dos interesses da população do distrito de Lisboa e é para além disso um enorme disparate do ponto de vista económico, ambiental ou de ordenamento. Insere-se aliás na linha de imposição de portagens em diversas outras vias estruturantes, como é o caso do IC16, do IC30 ou do IC24 no Porto.

Por muito que o governo queira disfarçar, o principal motivo para esta medida é a insensata cavalgada da diminuição do défice à custa de receitas extraordinárias, vendendo os anéis e os dedos e onerando cada vez mais a vida da população. Para além disso avolumam-se os indícios de que esta medida terá sido também um magnífico negócio para a Brisa e para o Grupo Mello. É que, segundo informações do próprio governo, os 288 milhões de euros pagos ao Estado pela Brisa, pela entrega das portagens por 30 anos, parecem ter sido apurados com base numa taxa de desconto, para a remuneração daquela empresa privada, de cerca do dobro do que é normal. Isto significa que afinal, com esta operação, o Estado perde receitas pelo menos num montante idêntico ao que recebeu agora da Brisa.

Impor portagens na CREL prejudica fortemente os cidadãos que a utilizam para se deslocarem para o trabalho, ou porque passarão a pagar muitas dezenas de euros por mês para a utilizarem, ou porque serão obrigados a deslocar-se para o trabalho por outras vias agora ainda mais congestionadas.

Impor portagens na CREL significa onerar as actividades económicas que a utilizam para o transporte de mercadorias, com destaque para o acesso ao Mercado Abastecedor da Região de Lisboa (MARL), que se faz em grande medida por esta via.

Impor portagens na CREL significa apostar num crescente congestionamento de outras importantes vias, como o IC19, a A1, a Calçada de Carriche e evidentemente a Segunda Circular e outras vias da cidade de Lisboa. Apesar disto o Presidente da Câmara de Lisboa parece ter ficado contente com a decisão do governo, o que demonstra como lhe são indiferentes os problemas que esta medida criará à Cidade, aos seus habitantes e a todos quantos nela estudam e trabalham.

Impor portagens na CREL significa prejudicar o ambiente porque os automóveis não deixarão de circular. Simplesmente se transferirão para vias mais congestionadas, prejudicando gravemente o ordenamento do trânsito.

Nesta como noutras medidas o governo não cumpre o seu programa eleitoral. Porque evidentemente nem PSD nem CDS anunciaram em campanha eleitoral que iriam repor as portagens da CREL. Mais ainda; subscreveram na Assembleia da República um projecto de lei para a (justa) abolição de portagens na A8, em defesa das populações do Oeste do distrito. Dão agora, descaradamente, o dito por não dito.

Tanta hipocrisia e desrespeito pela vida das pessoas e pelos seus direitos merece indignação e protesto. Que ninguém se cale.

Abaixo as portagens da CREL!