&quot;Mais listas de espera&quot;<br />Bernardino Soares na &quot;Capital&quot;

A verdadeira erradicação das listas de espera para intervenções cirúrgicas continua a não estar à vista. Recentemente o Ministro da Saúde anunciou com pompa e circunstância, e grande propaganda pública, alguns resultados do programa de recuperação de listas de espera. Mas a verdadeira situação das listas de espera, que afectam milhares de portugueses é bem diferente da propaganda do Governo.Na verdade o Governo informou agora o país de que o compromisso de pôr fim às listas de espera em dois anos era afinal apenas restrito à lista que existia no momento da promessa (!) e não se destinava afinal a acabar definitivamente naquele prazo com este flagelo que continua a afectar dezenas de milhares de pessoas.Entretanto o Governo anunciou que tinham sido realizadas cerca de 51 mil cirurgias em atraso nos últimos seis meses, mas que tinham entrado mais de 55 mil novos utentes para a lista de espera; ora isto significa que afinal a lista de espera aumentou e que há mais pessoas hoje a aguardar pela operação de que necessitam. E isto se aceitarmos que os números do Ministério da Saúde correspondem à realidade, uma vez que não foram discriminados por hospital e por tipo de patologia, e que vão surgindo notícias de que os novos utentes em lista de espera desde há seis meses atrás serão pelo menos 80 mil (e não os anunciados 55 mil).Aliás são já públicas e não desmentidas as informações de que a lista recenseada de 123 mil utentes em lista de espera há seis meses, seria afinal de 156 mil, o que o governo teria considerado “excessivo”, optando por um número mais moderado.Na verdade a existência de listas de espera para cirurgias (e também para consultas de especialidade ou para ter médico de família) só poderá ser resolvida em definitivo pelo aumento da actividade normal dos hospitais, para além da necessidade de programas especiais que permitam responder com maior rapidez às necessidades da população. E isto parece não estar a acontecer. Por outro lado avolumam-se os receios de que estejam a ser deixadas para trás algumas operações mais atractivas para os sectores privados. É verdade que se não houver capacidade nos hospitais públicos para responder a estas necessidades em tempo útil, se deve admitir o recurso à contratação de privados. Mas já não será admissível a compra ao sector privado de serviços que os hospitais públicos poderiam fazer e muito menos que se deixem propositadamente para trás as operações mais apetecíveis para os interesses privados. Milhares de portugueses continuam assim a estar sujeitos à lista de espera cirúrgica. O número de portugueses em lista de espera aumentou nos últimos seis meses, mesmo se tomarmos como certos os números do Governo. O ritmo de actividade normal dos hospitais não está a aumentar de forma a afastar em definitivo este flagelo. Não há garantias de que não se estejam a privilegiar interesses privados neste sector.Com este Governo é o direito à saúde que está em lista de espera.