&quot;Isto não é um título&quot;<br />Ruben de Carvalho no &quot;Diário de Notícias&quot;

Mesmo os mais acerbos críticos dos editores e responsáveis jornalísticos da comunicação social portuguesa concordarão que a coisa não está nada fácil. Por definição, jornais, rádios e televisões devem estar técnica e humanamente habilitadas a lidar com o imprevisto. O essencial do papel da comunicação é exactamente dar conta do que se passa, independentemente de ser o mais imprevisível dos eventos - ou até principalmente desses mesmo.

Mas é difícil viver sempre na constante imprevisibilidade. No leque vasto de secções temáticas, da economia ao desporto, da cultura à política nacional, há um tráfego mais ou menos natural de certa normalidade aqui, enquanto ali surge o imprevisto a requerer investigação rápida.

Ora, é de recear que os responsáveis editoriais portugueses estejam à beira de um estado de nervos.

Num dia, o eng. Sócrates diz que vai corrigir as maldades do dr. Bagão e aquela treta toda do IRS e dos PPR; dois dias depois diz exactamente o contrário, que se deve aproveitar as oportunidades.

Num dia o eng. Barreto diz que de todo ignora as obscuras transacções petrolíferas em que o dr. Morais Sarmento mergulhou em São Tomé; no dia seguinte diz que afinal no seu ministério se sabia. Possivelmente alguma telefonista.

Parece ser de começar a preparar a edição para anunciar que, afinal, já não há eleições, porque alguém se esqueceu de mandar imprimir os votos.