&quot;Estranho&quot;<br />Ruben de Carvalho no &quot;Diário de Notícias&quot;

Já está quase tudo dito sobre inconcebível inclusão das cartas anónimas sobre Jorge Sampaio e António Vitorino no processo da Casa Pia. Contudo, o comunicado da PGR introduz novo elemento ao afirmar que os investigadores receberam (como de resto, seria previsível) inúmeras outras cartas anónimas, igualmente irrelevantes, Ora interesse saber se tais cartas foram também apensas ao processo ou não. Porque se não foram, qual a razão daquelas duas o terem sido? E se foram, que palhaçada é esta? Mas há outro aspecto tornado público a merecer reflexão. Segundo parece, vários dos arguidos, finalmente conhecedores das acusações, poderão provar cabalmente a impossibilidade de terem estado nos locais e momentos em que lhes são imputadas práticas de crimes. A situação não é sequer nova, exactamente o mesmo já se passara com o Advogado Hugo Marçal. A incontornável pergunta que se coloca é que estranha investigação é esta que, pelo recurso a metodologias até declaradas inconstitucionais, não se dá sequer ao trabalho de testar junto dos arguidos, que durante meses mantêm à sua disposição na cadeia, as acusações que lhes faz? Todos temem que o processo Casa Pia acabe com a montanha a parir um rato. Será bem pior se a montanha parir um monstro.