Entrou em intenso consumo mediático - portanto seguramente efémero - o termo trapalhada. Usa-se à direita e à esquerda para caracterizar a barafunda dos últimos meses da política portuguesa.
Sucede que criei desde pequeno o vício do recurso aos dicionários. Em casa dos meus pais era mais que frequente a presença do Dicionário Prático Ilustrado, versão portuguesa do Petit Larousse, baptizado de «tira-teimas» e estrategicamente arrumado ao lado da mesa da sala de jantar, dirimindo polémicas ortográficas e semânticas a que a família, com manifesto e comum agrado, ali se dedicava.
Hoje, confrontado com tanta trapalhada, deu-me para ir ao Houaiss, que teria seguramente transformado os jantares da minha infância em verdadeiros e intermináveis banquetes... E verifiquei coisa que, nesses idos anos 50, daria prolongada sobremesa...
De facto, diz o tira-teimas, há, etimologicamente falando, duas trapalhadas a que designa acumulação de trapos, panos, e herdada do latim tardio drappus (parece que já com influência céltica, uma trapalhada) significando tecido, e outra, derivada de velha raiz espanhola, trapala, significando «confusão, embuste, pessoa que fala de mais».
Bendito Houaiss. Podemos então, também com rigor etimológico, entender como são tão diferentes e tão iguais as trapalhadas da Quinta das Celebridades e as trapalhadas do Governo Santana/Portas.