&quot;Desafio&quot;<br />Ilda Figueiredo no &quot;Semanário&quot;

Nesta campanha eleitoral deveriam debater-se ainda questões fundamentais para o desenvolvimento económico do País, designadamente para o aumento da produção na indústria, nas pescas e na agricultura, dada a sua importância para a criação de emprego com direitos e de riqueza. A comunicação social deveria também estimular esse debate, pressionando os partidos políticos com assento parlamentar a assumirem posições claras sobre os mesmos. Mas pouco se vê disso. Pelo menos na grande comunicação social de massas, embora as nossas candidaturas tenham feito um esforço para colocar estes temas no debate político.A escassez de debates televisivos pluralistas com os cabeças de lista e a fuga dos principais protagonistas, incluindo do PS, como acontece em Aveiro com o cabeça de lista, Manuel Pinho, que, apesar de apontado como o futuro Ministro da Economia do PS, se recusa a participar em debates pluralistas, secundando Paulo Portas do CDS/PP, apenas acentua esta fuga ao debate sobre questões fundamentais que já estamos a enfrentar, mas cujas consequências se vão acentuar num futuro próximo.Ora, os sectores com maior importância na criação de emprego no norte e centro do País são os tradicionais, com grande destaque para o têxtil, agora a braços com as ameaças da concorrência dos produtos asiáticos, devido à liberalização do comércio no âmbito da OMC - organização mundial de comércio.Enquanto a Turquia accionou uma cláusula de salvaguarda, efectivamente criando novas quotas para defender a sua indústria, a União Europeia não o fez, porque quer defender os seus grupos económicos e financeiros da alta tecnologia e dos serviços que pressionam a sua instalação na Ásia. É claramente uma opção da Comissão Europeia, a única que pode negociar na OMC em nome dos países membros da União Europeia: o sacrifício das indústrias de mão-de-obra intensiva na Europa, que predomina em países como Portugal, em benefício dos mesmos de sempre, dos mais poderosos e desenvolvidos.É certo que, face à preocupação perante uma dita “invasão chinesa”, o próprio governo chinês estabeleceu medidas para limitar as suas exportações têxteis. Mas a cláusula de salvaguarda continua a colocar-se para Portugal, dado sermos o país com maior concentração têxtil e com maior percentagem de emprego dependente do sector.Daí que tenha todo o sentido o alerta e a pressão que organizações empresariais e sindicais portuguesas estão a desenvolver visando o accionar da referida cláusula de salvaguarda, como temos também defendido no Parlamento Europeu.Numa recente resposta que me deu a uma questão sobre este tema, o Comissário Peter Mandelson afirma que “a Comissão está ao corrente da situação com que se depara a indústria dos têxteis e vestuário no contexto da abolição dos contingentes no final de 2004, após um período de transição de dez anos”. Mas, para já, remete tudo para o prolongamento dos trabalhos do Grupo de Alto Nível, o mesmo que criou quando foi pressionada a, no mínimo, apresentar uma comunicação sobre “ O sector dos têxteis e do vestuário após 2005”, como acabou por acontecer em 13 de Outubro de 2004. É certo que deixa alguma esperança quando afirma que “ este debate não está ainda encerrado e a Comissão acolhe com satisfação todos os contributos que promovam a abordagem das preocupações da indústria e se integrem no quadro das competências e do mandato da Comissão.”Assim, aqui fica o desafio: O que vai fazer o PS? E que fez o PSD? Como vão contribuir para manter o emprego de quase um milhão de pessoas que, directa ou indirectamente, estão ligadas aos sectores da têxtil e vestuário?Pela nossa parte, vamos continuar a lutar pela cláusula de salvaguarda, por apoios específicos para as PME, a investigação e modernização tecnológica, criação de marcas próprias, comercialização, formação e melhoria da organização empresarial, das condições de trabalho e dos salários dos seus trabalhadores, incentivando o melhor aproveitamento da especialização e conhecimento que Portugal tem nestas áreas.

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