&quot;Chantagens&quot;<br />Ruben de Carvalho no &quot;Diário de Notícias&quot;

Os evidentes excessos, os apelos do Presidente da República, uma saudável saturação do público parecem ter trazido contenção ao carnaval do processo Casa Pia.

Que tal aconteça não é negativo, pelo contrário.

Mas o que já dá que pensar é se esta nova circunspecção mediática irá alargar-se a outros acontecimentos sobre os quais se multiplicam interrogações e falecem respostas.

O mais notório é o caso Albarran. É relativamente secundário se o ex-jornalista foi ou não objecto de chantagem, como e por quem.

E mesmo sendo relevante se há ou não irregularidades fiscais, não será por aí que o problema adquire importância nacional.

Mas o que requer inquestionavelmente resposta é como é possível que ao longo de anos (repita-se: ao longo de anos), numa estrutura tão sensível como a Procuradoria- Geral da República, existam funcionários com vidas económicas e financeiras consabidamente irregulares, dispondo de estranhas complacências (no mínimo) bancárias e fiscais e que lidam com documentação confidencialíssima em ameno trânsito entre os cofres da PGR e as gavetas de suas casas.

Há mais chantagens?

E os menos visíveis, mas bem mais perigosos, tráficos de influências?

O processo Casa Pia desaguou na política - mas este é lá que nasce.