&quot;Afinal somos muitos&quot;<br />Ruben de Carvalho no &quot;Diário de Notícias&quot;

Parafraseando o vento suão de Régio, que havia o Zé Duarte de se lembrar de fazer? Ora, acolitado (ou acolitando...) Ricardo António Alves, cometeram 450 páginas de uma antologia sobre o «jazz na poesia portuguesa». Em rigor, a coisa devia chamar-se o «jazz na poesia de língua portuguesa», uma vez que com Ana Hatherly ou Rui Knopfli surgem com toda a lógica Mário de Andrade ou Vinicius – mas tudo bem. E para que serve este beneditino levantamento, intitulado «POEZZ»? Cá para mim, começou logo por me revelar uma coisa: eu fazia lá ideia de que o jazz tocou tanta sensibilidade!! O Agostinho Neto, já se vê, é lógico; mas a Fernanda de Castro? Claro, há o jazz band do Ferro, mas apesar de tudo... E o Gomes Ferreira, que eu supunha vidrado exclusivamente no Debussy?... Mas o que é mais sedutor é aquela felicidade que inevitavelmente sentimos quando se nos revela que nem nos nossos íntimos gostos e pequenas felicidades estamos sós no mundo. Então não é que um senhor que eu de todo desconhecia (José Alberto Oliveira, palavra que me sinto envergonhado) partilha comigo a paixão pelo piano de Bobby Timmons no «Moanin», se calhar no LP dos Jazz Mesengers, o primeiro disco de jazz que comprei (caríssimo!) vão lá mais de 40 anos?! E a Ana Mafalda Leite, que vive comigo (se calhar também com uns momentos e afectos a ela ligados...) o fascínio pela passagem do Keith Jarrett por Colónia? Não é tão bom? Poizzé.