&quot;A mudança de táctica&quot;<br />Honório Novo no &quot;Jornal de Notícias&quot;

Ainda ecoam as palavras de Manuela Ferreira Leite, que nem sequer corou quando, logo após Jorge Sampaio ter discursado no 25 de Abril, descobriu plena sintonia entre as palavras presidenciais e a obsessão governamental pelo cumprimento do défice...

Só que as críticas de Sampaio foram tantas e tão claras que o estado-maior da Direita se viu obrigado a tocar a rebate e a corrigir a táctica. Das tentativas de desvalorização e de colagem (modalidades usadas até à exaustão, durante a invasão do Iraque), passou à confrontação pura e dura.

Foi no almoço governamental do 1º de Maio que Santana Lopes tornou mais visível essa mudança táctica. Nunca falou de deslocalizações beduínas, do fecho injustificável de empresas ou dos custos das privatizações para os mais frágeis. Fugiu como o diabo da cruz da discussão sobre alternativas que muitos há muito reclamam ao fundamentalista pacto de estabilidade. Preferiu usar a velha história em que o lobo acusa o cordeiro de que se não foi ele a sujar a água, tinha sido certamente o seu pai ou avô. Enfim, a esperteza saloia típica da Direita para usar chavões e desviar as atenções...

É quando a CGTP, muito justamente, reclama que Jorge Sampaio remeta o novo Código de Trabalho para o Tribunal Constitucional, que a Direita ensaia a confrontação com a presidência. O objectivo é (também) condicionar e tentar evitar aquela decisão presidencial. Mas pode Santana Lopes esbracejar quanto quiser que não muda a realidade: é que as inconstitucionalidades do Código são tão numerosas e grosseiras (até Bagão Félix já admite haver meia dúzia), e as vozes a reclamar a verificação constitucional são tantas – muitos milhares só no 1º de Maio –, que a fiscalização constitucional se fará.