&quot;A esquerda caladinha&quot;<br />Ruben de Carvalho no &quot;Diário de Notícias&quot;<span class="titulo2"><span class="titulo2"><span class="titulo2">

Assistiu-se nos últimos dias à enésima edição do debate sobre se ainda tem significado político a dicotomia esquerda e direita. Claro, os resultados vieram prosaicamente comprovar a máxima velha: «Quando alguém me diz que deixou de haver diferenças entre esquerda e direita, uma coisa é certa: esse alguém não é de esquerda...»

O zénite deste surto foi o debate promovido pela RTP1 nos Prós e Contras entre seis figuras que teoricamente representariam aritmeticamente a direita e a esquerda. Como tem sido geralmente reconhecido, o programa foi uma maçada.

Contudo, os convidados investidos pela televisão pública de representantes da esquerda perderam uma soberba oportunidade para comprovarem tal estatuto em pleno programa. Certamente ofuscados pelo fulgor das luzes que sobre eles incidiam, nenhum parece ter-se apercebido de que faltava qualquer coisa e que estavam a avalizar com a presença (e mais ainda com o seu silêncio) um intolerável acto de discriminação, politicamente inaceitável e intelectualmente desprezível: a ausência de qualquer interlocutor que protagonizasse pontos de vista dos comunistas portugueses. Não será de estranhar - embora, claro, não seja aceitável - que a RTP segregue os comunistas: é tão-só uma postura de direita. Mas mais significativo é que Rui Pereira, Francisco Louçã ou Manuel Alegre optem face à situação por uma postura ainda mais de direita: estarem calados.