Intervenção de

Quebra do poder de compra dos portugueses - Intervenção de José Soeiro na AR

interpelação n.º 14/X, sobre a quebra do poder de compra dos portugueses

 

Sr. Presidente,
Srs. Membros do Governo,
Sr.as e Srs. Deputados:

Ouvi atentamente a intervenção inicial da bancada do CDS-PP e a pergunta que osteriormente foi feita pela mesma bancada, ouvi a pergunta feita pela bancada do PSD, ouvi atentamente a intervenção do Sr. Ministro e estava cá a perguntar aos «meus botões» quem é que, afinal, tem governado este País nestes 30 anos. Se isto continua assim ainda terei de me perguntar se seremos nós os culpados da governação que o PS, o PSD e o CDS-PP têm feito neste País, nos últimos anos!

Na verdade, aquilo que vemos são acusações ao Governo de que, numa determinada política, este fez pior do que os anteriores governos tinham feito. O Governo puxa dos números e diz: «não, a vossa foi muito pior que a nossa». Portanto, afirmam-se pela negativa, Sr. Ministro, e isto é que é grave.

Naturalmente que as portuguesas e os portugueses que nos têm estado a ouvir e que todos os dias vão às compras - e é de poder de compra que se trata - deverão perguntar-se de que país é que nós falamos face à realidade com que todos os dias se confrontam.

Isto porque a verdade inquestionável é que os preços têm aumentado acima dos salários, dos rendimentos das famílias. E isto não somos nós que o dizemos, pois até a própria União Europeia o reconhece e refere que são os piores resultados dos últimos 22 anos. Isto não é uma invenção nossa!

E se pegarmos no Relatório sobre a Estabilidade do Sistema Financeiro, do Banco de Portugal, que saiu ontem, este também não traz dados animadores, pois eles também não vão nada no sentido daquilo que nos foi dito hoje aqui.

Permita-me ler, não vá eu a dizer coisas que não estejam escritas. De facto, diz assim: «O rendimento disponível dos particulares continua, efectivamente, a ser menor que o endividamento, que bateu o recorde, em 2006, atingindo 124% do rendimento disponível». Isto é muito, Sr. Ministro, comparativamente a anos anteriores, pois em 2005 era menos, em 2004 ainda menos e por aí fora.

Se formos às poupanças e ao investimento, o que o Relatório diz sobre investimentos particulares, ou seja, das famílias, é que o rendimento disponível, em 1995, era qualquer coisa como 6,9% do PIB, em 1999, e em 2006 representou apenas 4,7% do PIB. Isto é, vem a cair também aqui.

Portanto, não compreendo! Provavelmente temos matemáticas ou números diferentes, mas estes números são apenas a confirmação daquilo que os portugueses sentem todos os dias quando se confrontam com a factura do gás, da electricidade, das compras da mercearia, dos estudos dos filhos, da saúde.

Isto porque o que constatamos é um agravamento em tudo aquilo que é essencial, para não se falar daquilo que já aqui foi aqui dito sobre os chamados impostos «cegos», que foram uma opção que o Governo fez para procurar o equilíbrio das contas públicas, transferindo-o para todos os portugueses e deixando situações tão escandalosas como a que também vem referida no Relatório do Banco de Portugal quanto ao lucro que o sistema bancário apresentou no ano passado e que é de nada mais, nada menos do que 2822 milhões de euros.

É este escândalo e esta injustiça que nenhum discurso pode apagar e esta é a responsabilidade deste Governo, à qual V. Ex.ª não se pode furtar.

 

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