Intervenção de Paula Santos na Assembleia de República, Reunião Plenária

O que falta nos bolsos dos trabalhadores e reformados, sobra nos bolsos dos grupos económicos

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Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,

As famílias estão já a cortar na alimentação!

Os dados do INE confirmam o que é obvio – o aumento especulativo dos preços a par da perda de poder de compra, na ausência de soluções do Governo para enfrentar esta situação, não traz nada de bom, como a realidade demonstra priva milhares de trabalhadores e de reformados de aceder a bens essenciais, como a comida.

Em média, os lacticínios aumentaram mais de 25%, as frutas e legumes mais de 30%, a carne e o peixe mais de 20% em comparação com o período homólogo.

Ter mais do que uma refeição quente por dia, infelizmente, não é possível para todas as pessoas.

Os custos com a energia e as telecomunicações aumentaram, assim como aumentaram os custos com a habitação. Os elevados custos da habitação constituem um obstáculo no acesso à habitação e para quem hoje tem casa, as rendas não param de aumentar, nem a prestação mensal do crédito bancário, para montantes que são absolutamente insuportáveis atendendo aos baixos salários e às baixas reformas no nosso País.

À inflação de 2022, acrescentar uma inflação de 8,1% este ano, a maior das últimas décadas, o que significa é um novo e brutal aumento dos preços.

Sabemos que o aumento dos preços não afeta todos da mesma forma. A inflação reflete a evolução dos preços de um conjunto de bens e serviços. As famílias de baixos rendimentos são muito mais afetadas, porque há um conjunto de bens e serviços de que já não tinham condições de adquirir e aquilo que é básico, a alimentação, a energia, tiveram aumentos bem superiores ao aumento da inflação.

 

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,

A vida está mais cara! Tudo aumenta, só os salários é que ficam para trás!

Esta é uma realidade que contrasta com os colossais lucros obtidos pelos grupos económicos, alguns para valores recorde.

A GALP obteve lucros recorde de 881 milhões de euros.

A EDP renováveis obteve 681 milhões de euros de lucro.

Os lucros da Sonae e da Jerónimo Martins nos primeiros nove meses de 2022 aumentaram mais de 30%.

As seguradoras aumentaram os seus lucros em 39%, para 900 milhões de euros.

O Banco Santander duplica o lucro para 568 milhões de euros.

Os lucros do BPI aumentam em 50% para 207 milhões de euros.

O que falta no bolso dos trabalhadores e dos reformados, sobra no bolso dos grupos económicos. Só não vê quem não quer.

Há um claro aproveitamento dos grupos económicos. E porquê? Porque os preços especulativos não são travados? O que é que impede? Mais uma vez o Governo PS e os partidos à sua direita, PSD, CH, IL e CDS não confrontam os interesses dos grupos económicos, nem querem beliscar os seus lucros.

Dizem que é assim por causa da guerra, da inflação, como se não fosse possível fazer nada, como se fosse uma fatalidade. Dizem lamentar as desigualdades, mas quando há soluções concretas para ultrapassar e resolver os problemas rejeitam tudo.

Tal como no período da troica ficou demonstrado que não estávamos condenados a uma política de exploração e empobrecimento - com a luta dos trabalhadores e do povo foi possível travá-la - também agora não estamos condenados a esta opção política de baixos salários, nem à pobreza e às desigualdades.

Esta é a natureza capitalismo e de quem o defende e pretende perpetuá-lo. A prioridade das prioridades é o lucro, o capital, a acumulação de riqueza, mesmo que para isso se empurre milhares de trabalhadores e de famílias para a pobreza. 

Para o capital a vida das pessoas pouco importa. Para uma minoria acumular cada vez mais riqueza há uma imensa maioria que empobrece a trabalhar. O capitalismo não é solução, mas sim parte do problema.

Não temos que viver assim. Isto é o que nos querem impor. É este o modo de vida de que tanto falam? Fortunas para uma meia dúzia e miséria para quem vive do seu trabalho. Não! Não é este o modo de vida que é justo.

Sacrifícios para quem trabalha, sem ter uma perspetiva de uma vida digna, sem uma perspetiva de poder dar um melhor vida para os filhos e netos, para que os grupos económicos continuem a explorar cada vez mais. É esta a realidade.

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,

Hoje, como no passado, a intervenção, ação e luta dos trabalhadores, dos reformados, dos imigrantes, dos jovens, das mulheres, é determinante para romper com este caminho, por uma política alternativa. 

Saudamos a luta dos trabalhadores no dia 9 de fevereiro, marcada pela CGTP, Dia de Indignação, Protesto e Luta. Saudamos as ações do Movimento “Os mesmos de sempre a pagar” no passado dia 16 de fevereiro. Saudamos a manifestação do Movimento “Vida Justa” no passado dia 25 de fevereiro. Os trabalhadores, as populações denunciaram as crescentes injustiças e desigualdade, exigiram que se trave os aumentos de preços de bens e serviços essenciais e se aumente os salários e pensões. Reivindicam uma vida com dignidade.

Não somos um país pobre, somos um país, que devido a política de direita foi empobrecido. Temos inúmeras potencialidades que podem e devem ser aproveitadas em prol do nosso desenvolvimento.

No imediato, combater o agravamento das condições de vida passa pelo aumento dos salários e das pensões e por uma justa redistribuição da riqueza criada, pelo controlo e regulação de preços de bens e serviços essenciais, pelo combate à especulação e contra o favorecimento dos interesses dos grupos económicos, pela promoção da produção nacional e o reforço dos serviços públicos.

Entregámos hoje mesmo uma proposta na Assembleia da República para o aumento intercalar das pensões, com efeitos imediatos, em 9,1%, num valor mínimo de 60 euros.

Os trabalhadores e o povo sabem que o PCP não baixa os braços e cá está e estará a intervir e a lutar pela elevação das condições de vida do nosso povo.

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