Recentemente a comunidade local foi surpreendida pelo anúncio de uma repentina intervenção na zona do Bico da Memória, que irá descaracterizar por completo a zona envolvente à Capela da Memória (imóvel de interesse nacional), dado que, para além da intervenção de consolidação das arribas, uma questão necessária, pretende-se fazer nascer no local uma plataforma suspensa, com recurso a materiais ditos “modernos”, para que se possa usufruir da paisagem.
Esta intervenção irá determinar o corte de um muro de construção vernacular datado de 1759, supostamente com a concordância da Direcção Geral de Património Cultural.
Esta obra, da responsabilidade da Agência Portuguesa do Ambiente e do Estado central, foi fabricada nas costas das populações, sem discussão, sem informação, sem alternativas, sem maquetas, sem estudos geomorfológicos, arqueológicos, paisagísticos – e, se existem, nunca foram apresentados ou discutidos com a população e com as instituições locais.
A indignação é transversal e vai desde a população - que assinou um manifesto (já com mais de 2500 assinaturas) e que se concentrou em grande número no passado dia 19 de março para travar esta opção - que sente aquele local como seu, de culto, de memória, de contemplação, até aos especialistas e académicos das várias áreas cujo interesse e investigação confluem para aquele lugar – o Bico da Memória.
Importa referir que a população adotou uma consigna que exemplifica bem aquilo que se pretende e que realmente está em causa – “Segurança sim, destruição do património não.” Assim e ao abrigo das disposições regimentais aplicáveis, solicitamos ao Governo, por via dos respetivos Ministérios, os seguintes esclarecimentos:
Permitirá o Governo que esta intervenção seja efetuada nestes moldes e com os impactos negativos anunciados?
Estará o governo disponível para, em conjunto com as populações e instituições locais, encontrar uma solução conjunta que assegure a segurança das pessoas e simultaneamente trave a descaracterização do local e a destruição do muro do Bico da Memória?