Pergunta ao Governo N.º 1480/XII/2

Prestação de cuidados de saúde por médicos contratados por empresas no Hospital de São Bernardo em Setúbal

Prestação de cuidados de saúde por médicos contratados por empresas no Hospital de São Bernardo em Setúbal

Recebemos a denúncia de um cidadão, que segundo o próprio, na sequência de um atendimento no serviço de urgência do Hospital de São Bernardo, em Setúbal (que considerou ter sido mau), endereçou uma reclamação à Administração do Hospital. Quase dois meses depois da apresentação da reclamação, a Administração respondeu, informando que o médico identificado na reclamação não pertencia ao quadro da instituição, sendo contratado através da Empresa RPSM- Prestação de Serviços Médicos, acrescentando ainda que o cidadão tinha “toda a liberdade de agir conforme achar conveniente”, o que lhe “deixou sentimentos de estupefação e de desamaro, tendo em conta a demora na resposta e o conteúdo da mesma”.
Infelizmente muitas unidades públicas de saúde recorrem à contratação de profissionais de saúde através de empresas de trabalho temporário, para suprir carências ao nível de recursos humanos. O PCP, há muito, alerta que este procedimento gera situações de precariedade e instabilidade laboral e poderá colocar em causa a qualidade dos cuidados prestados.
Mas para além do Governo não resolver as carências de profissionais de saúde nos estabelecimentos públicos de saúde, o que só por si é limitador dos cuidados de saúde prestados aos utentes; ainda, promove a contratação, neste caso concreto, de médicos através de empresas de trabalho temporário, que não respondem hierarquicamente às estruturas de gestão do Hospital onde exercem a prática clínica, constituindo mais um elemento que contribui para a degradação dos cuidados de saúde.
O Governo não pode, pura e simplesmente, ignorar esta realidade, como se estas situações concretas, não gerassem diariamente problemas, quer junto dos utentes, quer junto das Administrações Hospitalares. A insistência do Governo na contratação de profissionais de saúde através de empresas, em vez de promover concursos públicos para a sua contratação e consequente integração na carreira com vínculo público, conduz a iniquidades nas condições entre profissionais, gera conflitualidades e não permite um acompanhamento e uma intervenção da estrutura orgânica, nem dos órgãos de gestão da respetiva unidade hospitalar no que
respeita a atividade clínica realizada.Ao abrigo das disposições legais e regimentais aplicáveis, o Grupo Parlamentar do PCP solicita ao Governo, que por intermédio do Ministério da Saúde, nos sejam prestados os seguintes esclarecimentos:
1.Como justifica o Governo que as Administrações Hospitalares não tenham intervenção ao nível dos cuidados de saúde prestados por profissionais de saúde contratados através de empresas e que estes profissionais não respondam hierarquicamente à respetiva Administração, podendo não respeitar as normas, procedimentos e regulamentos vigentes?
2.Que medidas vai o Governo tomar para que as reclamações e as situações levantadas pelos cidadãos referentes a profissionais de saúde contratados por empresas, não sejam ignoradas e que as questões colocadas sejam resolvidas?
3.Para quando o Governo pretende resolver definitivamente a carência de profissionais de saúde através de empresa nas unidades públicas de saúde? Como pretende fazê-lo?

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