Intervenção de Miguel Tiago na Assembleia de República

As políticas de ajustamento levadas a cabo pelo Governo que conduzem a maior contração económica e a mais desemprego

Sr.ª Presidente,
Sr. Deputado Fernando Medina,
É um facto que a política desastrosa de direita, prosseguida por PSD e CDS, na senda do «pacto de agressão» que o PS também assinou, aliás, de cuja redação participou, tem vindo a gerar, como descreveu na sua declaração política, um cenário económico cada vez mais complexo, um aumento da dívida — ao contrário daquilo que tinha sido prometido —, juros incomportáveis e crescentes, um alastramento do desemprego sem precedentes, uma recessão cada vez mais funda, exaustão fiscal, quebra no consumo, perda salarial e precariedade laboral. O crescimento, neste contexto, é, de facto, cada vez mais uma miragem à qual o Governo alude para enganar os trabalhadores portugueses, enquanto lhes tira do bolso o seu rendimento.
Tenho algumas perguntas para fazer ao Sr. Deputado e à sua bancada e também uma resposta para lhe dar. É que lançou uma pergunta da tribuna e, já que o PSD é incapaz de lhe responder, tentarei dar-lhe aquela que é a nossa interpretação.
Quanto às perguntas, Sr. Deputado, gostaria de saber, em primeiro lugar, se confirma ou não que o Partido Socialista, aliás, partido de que o senhor, agora Deputado, foi governante, é o mesmo Partido Socialista que aprovou, com o PSD, partido atualmente no poder, os três PEC que precederam o pacto de agressão e que começaram a trilhar o rumo da austeridade desmedida e desbragada, para garantir a acumulação dos lucros nos grandes grupos económicos, à custa do trabalho dos portugueses.
Foi ou não o Partido Socialista que começou esse caminho?! E, Sr. Deputado, por favor, não me venha com a ladainha da responsabilização do PCP por o PS ter sido obrigado a aliar-se à direita, porque o PS escolheu os seus parceiros e escolheu, deliberadamente, a troica, o PSD e o CDS. E o povo português também castigou o PS pelas escolhas que fez!
Portanto, Sr. Deputado, peço-lhe que nos poupe a essa ladainha, porque já estamos todos fartos de a ouvir.
Também gostava de lhe perguntar se o Sr. Deputado Fernando Medina, com este exercício de retórica, nos quer convencer de que, se o PS estivesse hoje no poder, a praticar aquilo que escreveu no Memorando — porque foi o PS que o escreveu com a troica, ainda que PSD e CDS o tenham assinado e, à luz das avaliações que a troica cá vem fazer, o cumpram de forma absolutamente eficaz, sejam muito prestáveis no cumprimento desse pacto —, se, hoje, fosse Sócrates ou o Governo do qual o Sr. Deputado foi governante a vir aqui fazer uma avaliação do que se está a passar, vinha reconhecer os erros do pacto que estabeleceu. O Sr. Deputado quer convencer-nos de que se fosse Sócrates a vir aqui, à bancada do Governo, com os seus correligionários governantes, vinha fazer um ato de contrição, dizendo que era preciso arrepiar caminho à austeridade e promover o crescimento, depois daquilo que o PS fez, depois do caminho que o PS começou a trilhar e que, enquanto Governo, aprofundou?!
Fora os Orçamentos do Estado!
Quer convencer-nos de que, nesse Governo, a arrogância e a prepotência dariam lugar a uma política de esquerda?
Mas tenho ainda uma resposta para lhe dar, de forma muito breve, Sr. Deputado.
Perguntou como é que era possível fazer uma avaliação positiva deste pacto de agressão e do Memorando com a troica. É muito simples, Sr. Deputado! Quais eram os objetivos, quando o PS, o PSD, o CDS e a troica escreveram aquele Memorando? Mais desemprego, menos salário, mais horários, mais exploração, mais concentração de riqueza, mais pobreza, milionários protegidos, agiotas e banca protegidos. Todos estes objetivos estão a ser cumpridos!
Como é que a avaliação podia ser negativa, Sr. Deputado?!

  • Economia e Aparelho Produtivo
  • Trabalhadores
  • Assembleia da República