Debate sobre política de ciência, tecnologia e ensino superior
Colocarei ao Sr. Ministro questões efectivas e muito práticas sobre o funcionamento do sistema educativo em Portugal e o Processo de Bolonha, sobre a ciência e tecnologia e, finalmente, sobre a função social docente no ensino superior em Portugal. Relativamente à primeira questão, Sr. Ministro, parto deste pressuposto, que, contudo, não sei se é o seu: para mim, o Processo de Bolonha é flexível e não obrigatório. Como tal, o Processo de Bolonha não visava qualquer uniformização dos sistemas nacionais de ensino superior ou mesmo a uniformização do sistema educativo português. Ora, aquilo que temos vindo a constatar acerca do que Bolonha representa no nosso país passa, neste momento, por três soluções óbvias. Aliás, dizer que o Sr. Ministro não trabalhou o Processo de Bolonha é de uma profunda injustiça, porque há coisas que V. Ex.ª já fez e que passam por estas três soluções. Por um lado, reduziu a qualidade e o tempo de duração das formações. Isto é da sua responsabilidade! Por outro lado, diminuiu e desinvestiu no ensino superior público, através da diminuição destas mesmas formações. Por outro lado ainda, levou a que os jovens mais carenciados ficassem apenas pelo primeiro ciclo de formação e impediu-os de aceder ao segundo ciclo de formação, que passa, deste modo, a constituir um espaço elitista ao qual só alguns chegarão. Mas pior do que isso foi criar uma excepção para cursos que, sabemos, são de difícil acesso, denominando-os de cursos com hipóteses de concretização de mestrados integrados. Aliás, numa segunda intervenção do PCP ser-lhe-ão colocadas questões muito concretas sobre as propinas destes mesmos cursos. Portanto, é de uma grande injustiça dizer que o senhor não fez nada sobre Bolonha. Fez isto! Há, todavia, uma questão importante, que passa por saber o que é que o Sr. Ministro fez pelo sistema educativo nacional. Mas por este sistema o Sr. Ministro não fez nada, a não ser as malfeitorias que decorreram do Processo de Bolonha. O programa do Partido Socialista — aquele que ainda tinha um «cheirinho» a esquerda e no qual o Sr. Ministro teve, com certeza, grandes responsabilidades, se bem que em tempos que já lá vão, porque esse «é chão que já deu uvas»! — dizia com toda a clareza que éramos o país com a mais baixa taxa de diplomação. Deixámos de ser? Não! Estamos cada vez piores! Dizia esse programa que tínhamos uma baixa taxa de diplomação na área das ciências e tecnologias. Melhorámos? Não! Antes pelo contrário. Nesse documento dizia-se ainda que, a este nível, temos uma oferta perfeitamente irracional, com 800 designações e quase dois milhares de cursos. O que é que o Sr. Ministro fez quanto a isto? Nada! Vem hoje dizernos, Todavia, o Sr. Ministro também já tinha dito que esta mesma matéria começaria a ser equacionada no início do Processo de Bolonha! Em suma, sobre a realidade nacional do ensino superior nada foi dito, Sr. Ministro! Quanto ao investimento, falei há pouco com uma faculdade — é, portanto, uma notícia de última hora, como a que o Sr. Ministro nos trouxe — que está à espera que V. Ex.ª proceda à descativação das receitas próprias, visto que V. Ex.ª está a violar de forma grosseira a autonomia e a boa gestão das faculdades. E não me venha dizer que o culpado é o seu colega das finanças, porque, se é, o Sr. Ministro, não estando de acordo, tem a obrigação de se demitir. VV. Ex.as estão, portanto, a cativar as receitas próprias, violando a autonomia e a boa gestão das universidades. Por outro lado, o Sr. Ministro sabe que tem de cumprir a diferença entre o pagamento de uma propina mínima paga pelos bolseiros e a propina máxima, mas as faculdades continuam à espera, desde o início do ano lectivo, que o Sr. Ministro cumpra esta sua obrigação. E sobre Bolonha e o ensino em Portugal estamos conversados, porque sobre isto o Sr. Ministro não disse nada! Em relação à segunda questão, sobre ciência e tecnologia, o Sr. Ministro continua a não querer actualizar as bolsas que respondem a necessidades permanentes do sistema desde 2002. Olhe que esta ainda é uma «fatia» social democrata! O que é que o Sr. Ministro tem a dizer sobre isto, sobretudo quando sabe que o estatuto de 2004 continua por cumprir e que é o Estado que não cumpre as suas obrigações, nomeadamente não pagando as bolsas a tempo? O que é que V. Ex.ª tem a dizer sobre isto? E já não falo no celebérrimo programa que, um dia, há-de trazer os bolseiros para Portugal. Na verdade, só o fará se eles estiverem distraídos, porque, para serem tratados assim, mais vale ficarem em Inglaterra, nos Estados Unidos e no Canadá. Para aqui é que não deverão vir!
Em terceiro e último lugar, conhecendo o Sr. Ministro os compromissos que assumiu pessoalmente e que o seu partido assumiu como oposição e como Governo relativamente à vergonha que é a ausência de subsídio de desemprego para os professores do ensino politécnico e universitário e para os investigadores,
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