Intervenção de

Peti??o 61/VII - Associa??o Acad?mica de Coimbra (caso N'dinga)<br />Interven??o do deputado Jos? Cal?ada

Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados: A Associa??o Acad?mica de Coimbra alinhou com os seguintes jogadores: Viegas, na baliza; na defesa, Gerv?sio (capit?o), Vieira Nunes, Belo e Marques; Rui Rodrigues, Nen? e V?tor Campos no meio-campo; no ataque, M?rio Campos, Manuel Ant?nio e Peres. Jogaram ainda Serafim e Rocha, substituindo respectivamente Peres e V?tor Campos. A Acad?mica chegou a estar a ganhar o jogo por 1-0, com um golo de Manuel Ant?nio; mas acabou por perd?-lo por 2-1, para o Benfica, que assim ganhava a "final" da Ta?a de Portugal realizada no Est?dio do Jamor... no dia 22 de Junho de 1969. Todos estes factos, e ainda muitos outros - mais t?cnicos ou mais pitorescos - podem ser retirados das cr?nicas que os jornais nos davam do jogo no dia seguinte, cr?nicas de tal modo minuciosas que, ao l?-las, quase nos sentimos dentro do est?dio. Esta ilus?o era particularmente eficaz para aqueles que l? n?o se tivessem deslocado - j? que, pelo contr?rio, foi imposs?vel a muitos dos mais de 50.000 espectadores encontrarem nas cr?nicas quaisquer relatos mesmo subentendidos, ou quaisquer reflexos, mesmo p?lidos, de algumas circunst?ncias que rodearam o jogo. Na verdade, a "Comiss?o de Exame Pr?vio" encarregou-se diligentemente de eliminar quaisquer refer?ncias a manifesta??es de estudantes da Academia de Coimbra, ent?o mergulhados numa longa greve antifascista e pela democratiza??o da Universidade, e que haviam utilizado o futebol para fazer ouvir a sua voz e as suas aspira??es. H?bil utiliza??o, essa, tanto mais inesperada e inteligente quanto exercida no pr?prio cora??o de um acontecimento desportivo que o regime fascista sempre pretendeu alienante e alienador. E ? precisamente aqui que, tanto ent?o como hoje, em circunst?ncias hist?ricas embora bem diversas, vamos encontrar as ra?zes que nos podem ajudar a compreender em todo o seu alcance o alerta sincero e corajoso lan?ado nesta Peti??o pela Associa??o Acad?mica de Coimbra sobre, e cito, "a situa??o actual do futebol portugu?s e as medidas necess?rias ? sua moraliza??o". Atrevo-me a dizer, sem menosprezo pelos demais, que, dada a sua hist?ria e os seus muito espec?ficos condicionalismos, provavelmente nenhum outro clube portugu?s de futebol estaria em condi??es de nos lan?ar este alerta como o fez a Associa??o Acad?mica de Coimbra. "Le sport c'est la guerre!", titulava h? algum tempo atr?s o "Le Monde Diplomatique". Bem o sabemos, e os exemplos abundam. E num tempo em que os sacrossantos valores do mercado invadem progressivamente todos os sectores de actividade, o desporto, e nomeadamente o futebol, tem sido um campo f?rtil para todos os abusos. Ainda bem recentemente, quando nesta Assembleia se discutiu uma proposta de lei do Governo para a revis?o da Lei de Bases do Sistema Desportivo, o meu Grupo Parlamentar teve ocasi?o de denunciar o modo ligeiro e perverso como o Governo encara estas situa??es, confundindo "desporto" com "futebol", e "futebol" com "futebol profissional", alienando a "generaliza??o da actividade desportiva como factor cultural indispens?vel na forma??o plena da pessoa humana e no desenvolvimento da sociedade" (como o imp?e a pr?pria Lei de Bases), e configurando uma absurda e abusiva inger?ncia no movimento associativo portugu?s. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados: De h? longos anos a esta parte, a Associa??o Acad?mica de Coimbra/Organiza??o Aut?noma para o Futebol tem desenvolvido uma ac??o inigual?vel no campo da forma??o integral dos homens e dos atletas. Independentemente de outras nossas op??es club?sticas - todos n?s nos comovemos com as vit?rias da Acad?mica ou com as suas derrotas. N?o sei, cient?fica e friamente, dizer-vos o que ? a Acad?mica. Mas sei dizer-vos que, de t?o grande, n?o lhe resta sen?o sair dela mesma - e instalar-se naturalmente no cora??o de todos n?s.

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