A constituição de uma comissão de inquérito para investigar os escândalos revelados pelos “Panamá Papers” constitui um sinal político importante visando combater uma prática que é a todos os níveis condenável.
Contudo, o passado recente, com a sucessão de escândalos fiscais, leva-nos a concluir que estamos em presença de um problema estrutural e não apenas conjuntural. Esta comissão, independentemente do apuramento dos factos sobre os protagonistas destas práticas, sejam eles empresas de consultadorias, multinacionais ou governos nacionais, deve suscitar uma ampla reflexão sobre as causas mais profundas que criaram as condições para estas práticas que são comuns e se generalizam à maioria das grandes multinacionais com a conivência de grande parte dos países ditos ricos, muitos eles parte da UE. E estas causas profundas estão naturalmente associadas à desregulamentação do sistema financeiro e ao levantamento de todas as restrições à circulação do capital.
Lamentamos por isso que o mandato desta comissão não reflita esta necessidade. Mas com o nosso trabalho, confiamos que esta se irá impor por si só, para que os cidadãos entendam que a fraude e a evasão fiscal só terão resposta com um novo modelo económico em que a soberania dos estados esteja acima da agenda das grandes empresas multinacionais.