Declaração de Paulo Raimundo, Secretário-Geral do PCP, Declaração à imprensa

Sobre o encontro com o Bloco de Esquerda

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Foi uma reunião que nós tivemos, uma reunião normal, inserida no balanço das eleições, nos resultados, nos desafios que se colocam e na necessidade de respostas que é preciso dar. 

Foi nesse sentido que fizemos esta reunião, convergimos em aspectos de análise dos resultados, numa situação diferente que aí está, uma situação muito exigente que precisa de resposta.

Todos os problemas que existiam no dia 9, aí estão. O problema dos salários, das reformas, da habitação, do Serviço Nacional de Saúde, da resposta aos direitos dos pais e das crianças. Tudo isso estava e está aí para dar resposta e não temos nenhuma ilusão de que essa resposta não virá pelas mãos de um governo PSD/CDS ou com outras arrumações que eventualmente venham a criar.

Daí só virá mais desmantelamento dos serviços públicos. Daí só virá mais ataques ao regime democrático, mais ataques aos salários, independentemente desta ou daquela medida pontual que se possa agora, nesta entrada de pezinhos de lã, tentar, diria assim, iludir. 

Num cenário de viragem à direita qual é a convergência que é possível fazer? 

É como disse há pouco, o resultado eleitoral, na prática, cria melhores condições para o projecto da direita e dos grandes interesses dos grupos económicos, os tais dos 25 milhões € de lucros por dia. Não há nenhuma dúvida sobre isso.

Mas isso não resolve nenhum dos problemas das pessoas, pelo contrário, tenderá a agravá-los. É preciso resposta a isto, é preciso combater e aquilo que dissemos e voltamos a reafirmar também neste encontro com o Bloco de Esquerda é que os trabalhadores, o povo, todos podem contar com o PCP na primeira linha de combate a esta política e estes objectivos e utilizando todos os meios ao nosso dispor, todos os instrumentos ao nosso dispor, quer no plano institucional, quer fora das instituições.

Contestação nas ruas?

Claro, as pessoas têm de reagir. É como disse, todos os problemas que existiam, uma parte deles, por responsabilidade do Partido Socialista, mantém-se tal e qual, e não há medida pontual que vá resolver de forma estrutural os problemas. 

O Governo prepara-se para tratar de questões que também os partidos de esquerda têm exigido e colocado em cima da mesa: A contagem do tempo de serviço dos professores; a resposta aos serviços de segurança; o Serviço Nacional de Saúde. O PS já disse que também estaria ao lado dessas medidas. Seria um embaraço para os partidos mais à esquerda, senão não viabilizassem estas medidas?

A questão não é essa. A questão que tem que se colocar é: Por que razão é que esses problemas chegaram ao que chegaram? Por que razão é que não houve nenhuma resposta a esses problemas concretos? 

Sabemos hoje, como sabíamos há dois anos, como sabíamos há um ano, como sabíamos há seis meses, que havia condições também financeiras para dar resposta a esses problemas. Houve uma opção clara, do Partido Socialista, de não responder aos problemas. Este que é o grande mal.

Nós poderíamos ter evitado um conjunto de problemas na vida de cada um todos os dias, se tivéssemos respondido a estas questões que está agora a identificar e outras, essa que é a grande questão, não é outra. Nunca faltaremos à convergência. 

E sobre os nomes que foram avançados à pouco, Aguiar Branco para a presidência da Assembleia da República e Hugo Soares para o líder da bancada do PSD, pedia-lhe uma reação a estes nomes.

Não tenho nenhuma reação especial a fazer. São nomes que são propostos pelo PSD para cargos diferentes. Um caberá ao PSD decidir, o outro caberá à Assembleia da República decidir.

Mas parece-lhe bem? 

Não me parece bem, nem me parece mal. Agora é uma coisa que para nós é muito clara. O nosso problema não é a questão com a pessoa A, B ou C ou se é mais ou menos simpática.

Isto para nós não conta, o que conta são as opções políticas e aquilo que sabemos hoje é que as opções políticas do futuro governo do PSD/CDS com um ou outro ajuntamento, diria assim, são opções erradas que contrariam aquilo que é preciso fazer, que é dar resposta aos problemas das pessoas. Este é o problema, não é a pessoa A, B ou C.

Como é que reage ao excedente histórico que Portugal conseguiu, tendo em conta que também tem uma dívida elevada? 

O excedente histórico advém do quê? Advém da falta de resposta aos professores, advém da falta de resposta aos serviços públicos, advém da falta de médicos, da falta de reconhecimento e valorização das carreiras, da falta de resposta às questões das forças de segurança, da falta de resposta aos funcionários judiciais, da falta de investimento público. 

O resultado do desinvestimento nas pessoas, na vida e nos serviços públicos está transposto nesse excedente orçamental. Ficamos melhor, o país ficou melhor, a vida de cada um ficou melhor com o excedente orçamental? Não, ficou pior. 

Ganhamos pouco com esse excedente orçamental. Houve alguém que se safou bem como esse excedente orçamental que se vai continuar a safar, a vida das pessoas ficou pior.