Nota da Comissão Política do Comité Central do PCP

Sobre a situação política

1. A situação política e militar degrada-se hora a hora. O pais corre o risco de ser mergulhado em confrontos sangrentos entre forças e sectores que têm estado com o processo revolucionário. Tais confrontos só podem aproveitar à reacção e facilitar a instauração duma mova ditadura.

Por razões que terão de ser ulteriormente consideradas, os militares revolucionários que procuraram dedicadamente resistir aos saneamentos à esquerda e ao enfraquecimento das unidades progressistas perderam posições, apesar de apoiados corajosamente pelas massas trabalhadoras.

Na sequência da orientação que tem defendido, 0 PCP insiste na necessidade de se buscar urgentemente uma solução política para a crise.

A saída não poderá ser a imposição da hegemonia da aliança PS-PPD no governo, nem da hegemonia duma só tendência do MFA nas forcas armadas.

Não se iludam as forças da direita. A tentação das forças da direita de aproveitarem uma situação que lhes é vantajosa para impor uma tal hegemonia continuaria a agudizar a situação e conduziria a curto prazo a novos e mais graves conflitos.

As forças da esquerda cometeriam também um grave erro se sobrestimassem as próprias forças e tentassem qualquer acto desesperado.

A saída da crise esta na reorganização do MFA numa base progressista e na formação de um governo de esquerda na base duma plataforma que corresponda aos interesses, aspirações e objectivos das classes trabalhadoras e do povo em geral.

Nas circunstâncias existentes, posições irredutíveis só poderiam conduzir a uma situação que seria pesadamente paga pelo povo português.

Todas as forcas progressistas, militares e civis, estão interessadas numa solução política negociada.

Tal como sempre, o PCP continua pronto, a examinar em conjunto a saída da situação.

2. Na complexa situação criada pelos últimos acontecimentos e pelo estado de sitio na região de Lisboa que acaba de ser decretado, o PCP indica a todos os militantes, aos trabalhadores, a todos os antifascistas a necessidade de:

a) Manter tenazmente as suas organizações e a sua actividade regular, embora com as limitações impostas na região de Lisboa.

b) Manterem-se vigilantes contra quaisquer provocações.

c) Insistirem na firme defesa das liberdades e das outras conquistas da revolução, designadamente as nacionalizações e a reforma agrária.

d) Multiplicarem os esforços no sentido da unidade da classe operária, das massas populares, de todas as forças progressistas.

O momento exige grande serenidade e grande confiança no futuro.

O povo português defenderá as liberdades e as outras conquistas da revolução e edificará um regime democrático a caminho do socialismo.

  • 25 de Novembro de 1975
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  • 25 de Novembro