Artigo de Bernardino Soares no «A Capital»

«Nem transparência, nem atenção»

1 - Quanto mais noticias vão surgindo sobre as graves irregularidades no acompanhamento e na gestão do Hospital Amadora-Sintra, desde 1995 entregue ao Grupo Mello, mais inacreditável é a recusa do PSD e do CDS em relação à criação de uma comissão parlamentar de inquérito sobre esta matéria.

Na verdade a maioria de direita não quer que se saiba a verdade sobre a gestão do Hospital Amadora-Sintra. Fá-lo porque quer esconder as suas próprias responsabilidades, quer na entrega do hospital ao Grupo Mello em 1995, quer no último ano e meio de tutela do Ministério da Saúde.

Mas o Governo quer também e sobretudo garantir a continuação dos negócios privados na saúde. Quer assegurar o sucesso da privatização de 10 novos hospitais e provavelmente no futuro de outras unidades.

Por isso se escudam os responsáveis do Ministério da Saúde no tribunal arbitral que, por conveniência do Grupo Mello, foi introduzido pelo Governo PSD no contrato em 1995.

É uma exigência democrática que todo o processo do Hospital Amadora-Sintra seja publicamente esclarecido, e que antes das privatizações anunciadas, o povo português possa saber qual é o balanço da única experiência de gestão hospitalar privada no Serviço Nacional de Saúde.

2 – Em artigo publicado no Jornal de Noticias anteontem, Edgar Correia, pronunciando-se sobre questões da política de saúde criticou “o inexplicável alheamento da Assembleia da República, incluindo dos partidos de esquerda, em relação ao decreto-lei n.º185/2002, que o actual governo publicou sobre parcerias em saúde”. Afirmou que este alheamento “permite explicar o desconhecimento de muitos portugueses em relação às orientações privatizadoras adoptadas.”

Ora só por falta de atenção ou alheamento se pode generalizar esta afirmação, uma vez que o PCP chamou o referido diploma à Apreciação Parlamentar (n.º 3/IX), promoveu o seu debate em plenário e propôs a sua revogação, que foi rejeitada com os votos contra da maioria e a abstenção do PS.

Também o Público de Domingo atribuía a Fernando Rosas, dirigente do Bloco de Esquerda, uma declaração em que criticava o envio da GNR para o Iraque e lembrava “que os deputados bloquistas fizeram intervenções parlamentares e apresentaram requerimentos nesse sentido” lamentando “a falta de atenção do PS, do PCP e da própria opinião pública”.

Ora mais uma vez, só por falta de atenção Fernando Rosas pode ignorar as intervenções do PCP sobre esta matéria, por exemplo em perguntas no debate mensal com o primeiro-ministro e em declaração política semanal, como facilmente se pode constatar no registo dos debates parlamentares.

O seu, a seu dono.