Intervenção de Paulo Raimundo, Secretário-Geral, Passeio das Mulheres CDU - Porto

«Não estamos destinados ao aperto permanente enquanto uns poucos se vão enchendo às custas do nosso esforço e do nosso trabalho»

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Uma saudação a todos os participantes desta importante iniciativa.

Aqui estamos num momento particularmente difícil para todos nós e para o nosso povo.

Momento de injustiças e onde se expressam desigualdades gritantes.

Mas por que razão estamos destinados ao empobrecimento, estamos destinados a viver pior?

Não, não estamos destinados ao aperto permanente enquanto uns poucos se vão enchendo às custas do nosso esforço e do nosso trabalho.

Dizem-nos que vivemos no melhor dos mundos possíveis, que não há alternativa.

Que a única solução é a de ir assistindo e aguentando a mesma política de sempre, essa mesma política ao serviço dos tais grupos económicos que se enchem enquanto somos empurrados para a pobreza.

Essa política que carrega os bolsos de uns poucos, que todos os dias nos assalta as carteiras, essa política que ou entra pela mão do PS, ou do PSD com a ajuda dos seus sucedâneos do Chega e do IL, sempre com o CDS à espreita.

Todos juntos, que mesmo sendo diferentes alinham-se sempre que toca a defender os grupos económicos, todos diferentes, mas sempre alinhados como os astros na promoção da injustiça e desigualdade.

Todos diferentes mas com opções tão parecidas que até têm dificuldades em se oporem uns aos outros sobre alguma questão grossa que seja.

É por isso que somos arrastados para as berrarias, as falsas polémicas, as tricas, intrigas, casos e casinhos, na procura olímpica de mostrarem que discordam em alguma coisa.

Era só o que faltava estarmos destinados a isto.

Não é e não pode ser assim.

Há alternativa e ela está a ser construída todos os dias, tal como a estamos aqui hoje a construir.

Sim, a situação é difícil, sabemos bem e por experiência própria.

A vida está cada vez mais cara, sobem os bens essenciais, sobem os alimentos, sobe tudo menos os salários e as pensões, é assim todos os dias.

Dizem que a economia está melhor, que a inflação baixa, que é tudo bons resultados.

Bons resultados só para uns poucos, porque cada um de nós sabe bem que, desses resultados, nenhum se traduz nas nossas vidas, passam-nos completamente ao lado.

Que temos de nos contentar com os remendos que nos apresentam. 

No que conta todos os dias, a realidade de todos os dias, e é esta a verdade, é que o cabaz de compras em Maio de 2023 e já com o famoso IVA zero é 5,7% mais caro que o mesmo cabaz de Maio de 2022. 

As famílias continuam a apertar o cinto, a gastar mais em alimentação e a comprar menos comida.

O IVA zero para nós tem efeito zero mas foi e é mais um belo negócio para a grande distribuição.

Os preços continuam a subir e a grande distribuição continua a lucrar e de que maneira...

E até onde vai isto continuar?

Não! Não tem de ser assim!

É preciso impor limites de preços máximos em bens essenciais, é preciso reduzir os preços dos alimentos e é, essa sim, a medida determinante, a grande urgência nacional, é preciso aumentar salários e pensões!

Sim, a situação é difícil, sabemos bem a dimensão do problema que se enfrenta com os impossíveis custos com a habitação.

Estamos perante uma situação gravíssima, milhares de pessoas com a corda na garganta e que fazem os possíveis e os impossíveis, para aguentar a habitação.

A habitação, o seu tecto para viver é o maior bem de cada pessoa.

A renda e a prestação é a última coisa que cada um deixa de pagar.

Deixam de jantar fora, de ir ao cinema, depois reduzem o custo com alimentação, depois fica a conta da luz e do gás por pagar, e, no limite, a última coisa que cada um faz é deixar de pagar a casa.

Milhares de pessoas estão nesta situação todos os dias e todos os meses, por vontade do Banco Central Europeu e da União Europeia, ao serviço que estão dos grandes grupos económicos.

Estão todos a encher à custa do sacrifício de cada um de nós.

Um problema que pode levar à miséria milhares de pessoas e do Governo não se vê uma acção concreta que seja.

Este não é momento para declarações de intenções.

Nesta situação precisamos de um Governo que se levante contra a UE e o BCE e que defenda quem cá vive e trabalha e não a banca, os seus interesses e os seus lucros.

Não precisamos de explicações do BCE, precisamos é de acções firmes do Governo.

E acima de tudo não precisamos de mais propaganda.

A propaganda não paga rendas, não paga prestações, não põe comida na mesa.

Novo aumento, o oitavo, das taxas de juro ordenadas pelo BCE e a União Europeia. 

Para esta gente é completamente indiferente o drama do que isto representa para mais de um milhão de famílias e para os micro, pequenos e médios empresários, muitos deles a viverem em silêncio e isolados este drama.

Enquanto isso, a banca tem 10,7 milhões de lucros por dia.

E a tudo isto o Governo assiste de braços caídos, rebaixando o País à vontade da banca, do BCE e da UE.

Por sua opção, e em tudo acompanhado por PSD, CDS, Chega e IL, quer transformar o Banco de Portugal em pau mandado do BCE e permitir que um gabinete qualquer em Bruxelas mande no País.

É preciso enfrentar e de frente os interesses da banca, é isso que hoje se exige de um Governo soberano.

É preciso pôr a banca, e os seus 10,7 milhões de euros de lucros por dia, a pagar os aumentos das taxas de juro.

É isso que se impõe e não esconder-se atrás de Lagarde e das suas opções, opções que são uma afronta a quem cá vive e trabalha.

Redução de salários? Alastrar ainda mais a miséria do nosso povo?

São estas orientações que o Governo vai seguir ou vai defender os interesses do País e de quem cá vive e trabalha?

O que o Governo teria e vai ter de fazer, tal como há muito o PCP propõe, é pôr a Caixa Geral de Depósitos a fixar um spread máximo de 0,25%, obrigando a banca privada a reduzir a sua margem especulativa.

É preciso pôr os bancos a pagar o aumento das prestações de crédito da habitação, desde logo fazendo reflectir esses aumentos no fim das taxas e comissões bancárias que nos são cobradas por tudo e por nada.

É preciso criar uma moratória, tal como a que foi criada na altura da COVID-19, por um máximo de dois anos.

É isto que hoje se impõe e não mais conversa atrás de conversa.

Mas não estamos destinados a isto, era só o que faltava.

Sim, muito se fala de impostos. Mas aquilo que é preciso, também aqui, é de menos conversa e mais acção.

Baixar os impostos que devem baixar para os trabalhadores, reformados e micro, médios e pequenos empresários e comerciantes e aumentar os que devem aumentar sobre os lucros dos grupos económicos.

Baixar o IVA na energia, gás e telecomunicações e não hesitar em nenhum momento tributar de forma efectiva quem deve pagar, o grande capital, nomeadamente indo buscar receita aos sectores que cada vez concentram mais lucros e riqueza e que na prática pagam taxas efectivas de impostos mais baixas do que os trabalhadores e os reformados, como é o caso da banca.

Sim, a situação é difícil, o Serviço Nacional de Saúde continua a braços com um grande desinvestimento.

Cada vez mais utentes sem médico de família, todos os meses são mais uns milhares, ao mesmo tempo que 40% do Orçamento do Estado para a saúde vai direitinho para o negócio da doença. Assim se explicam os lucros de grupos económicos como os Mello entre outros.

Não! Não tem de ser assim!

É preciso um real e sério investimento no SNS, reforçar cuidados de saúde primários, centros de saúde e pôr fim aos encerramentos e fusões de serviços.

É preciso valorizar os profissionais de saúde, todos eles, gente esforçada, dedicada, a quem não é reconhecida a importância.

Sentimos bem na pele como a situação está difícil.

Não aceitamos a conversa de que não há alternativa aos remendos e aos faz-de-conta do Governo, ou ao empobrecimento ainda mais acelerado do povo.

Hoje é evidente para todos que isto não vai lá nem com um governo do PS que não responde aos problemas concretos das pessoas e que, naquilo que conta, naquilo que é decisivo, conta com o apoio, patrocínio e aplauso de PSD, CDS, Chega e IL.

Independentemente da forma e da intensidade, o que estes partidos têm para nos oferecer é ainda mais empobrecimento, ainda mais transferências para o capital, para os grupos económicos, mais exploração, mais privatizações, mais desmantelamento do SNS.

Não! O que é preciso é dar meia-volta, e caminharmos firmes e seguros de que o caminho que trilhamos é o caminho que nos interessa, e não o que serve aos accionistas dos grupos económicos.

O que é preciso é aumentar salários e pensões.

O que é preciso é recuperar a nossa soberania.

O que é preciso é garantir os direitos das crianças, o direito a crescerem saudáveis e felizes, o direito a brincar, é preciso para isso, garantir os direitos dos seus pais e famílias.

O que é preciso é a política patriótica e de esquerda.

Essa alternativa que serve aos trabalhadores, às populações, essa alternativa que é do seu interesse, a alternativa de que o PCP e a CDU são portadores.

Todos já percebemos que quando o PCP e a CDU avançam e se reforçam a vida de cada um também avança.

Se assim é vamos então dar mais força à alternativa, vamos dar mais força ao PCP e à CDU e com confiança, luta e determinação, construir a política que nos serve.

É por aqui que vamos e vamos com muita confiança.

Se é verdade que é a grande maioria que é alvo da política de direita, que é alvo das injustiças, que é a grande prejudicada com a desigualdade, também é verdade que quando esta enorme maioria, quando os trabalhadores e o povo perceberem a força que têm, quando perceberem a força da sua luta, a força da sua unidade, a força do seu número, a força da sua força, então é mais que certo que as coisas vão ter de mudar e essa é a grande potencialidade do momento actual.

Continuar a lutar, continuar a dar mais força à vossa força, dar mais força à CDU para que cada uma de vós se constitua na grande construção colectiva por uma vida melhor a que temos direito.

Há gente séria, há gente boa, há gente capaz de construir este caminho.

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