Declaração de Margarida Botelho, Membro da Comissão Política do Comité Central, Conferência de Imprensa

«Não esquecer os crimes de Hiroxima e Nagasáqui e lutar pelo desarmamento e a paz»

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1. Nos dias 6 e 9 de Agosto de 1945 o imperialismo norte-americano cometeu um dos maiores crimes da História da Humanidade: os ataques nucleares sobre as cidades japonesas de Hiroxima e Nagasáqui. Em poucos segundos, muitas dezenas de milhar de pessoas foram mortas, num massacre sem precedentes. Nos meses e anos seguintes o balanço das vítimas mortais haveria de ascender a centenas de milhar. Muitos outros sofreram terríveis sequelas físicas e psicológicas, que se transmitiram também às gerações seguintes.

2. Os crimes de Hiroxima e Nagasáqui continuam a ser defendidos, até hoje, por todos os Presidentes dos Estados Unidos da América, o único país que já utilizou a arma nuclear. A utilização da arma de destruição massiva contra a população civil de Hiroxima e Nagasáqui ocorreu meses depois da derrota de Hitler e do fim da guerra no continente europeu, e quando já as autoridades do Japão militarista haviam oferecido a sua rendição. Hiroxima e Nagasáqui não foram obliteradas para pôr fim à II Guerra Mundial, mas para ditar as regras do novo mundo pós-bélico. O crime atómico serviu para afirmar até onde o imperialismo norte-americano estava disposto a ir, no seu afã de travar a grande onda de libertação nacional e social que varria o planeta no rescaldo da derrota do nazi-fascismo. Onda de libertação inseparável do papel determinante da União Soviética e do seu glorioso Exército Vermelho, com o contributo da resistência antifascista a nível mundial, em que os comunistas de todo o mundo tiveram um papel central. Ao findar a Guerra, os sectores mais reaccionários do grande capital puseram fim à aliança antifascista surgida na conjuntura da II Guerra Mundial, dando início à ofensiva antipopular e anticomunista que marcou os anos seguintes - a chamada ‘Guerra Fria’ - marcada pela colaboração de todas as facções do grande capital. Hiroxima e Nagasáqui foram disso reflexo.

3. As décadas seguintes evidenciaram que a utilização criminosa de armas de destruição massiva contra populações civis é um traço característico do imperialismo, e em particular do imperialismo norte-americano, seja com armas químicas e biológicas, como nas guerras da Coreia e do Vietname, seja com armas à base de urânio empobrecido, nomeadamente na Jugoslávia e Iraque. São grotescas as campanhas em que os utilizadores das armas de destruição massiva pretendem transferir para as suas vítimas os seus próprios e odiosos crimes. Mesmo países que aceitaram programas de desarmamento, como o Iraque e a Líbia, foram agredidos e destruídos.

4. No aniversário de Hiroxima e Nagasáqui, o PCP alerta para os enormes perigos da actual situação mundial, incluindo os perigos reais de uma confrontação entre as duas maiores potências nucleares do planeta. Todos quantos amam a Paz não podem ignorar o significado da escalada militarista e bélica que se seguiu ao desaparecimento da União Soviética. As guerras de agressão do imperialismo - em violação flagrante da Carta da ONU e do Direito Internacional - destruíram inúmeros países que se pretendiam manter autónomos em relação ao domínio das grandes potências imperialistas. Assistimos hoje a uma perigosíssima escalada de retórica e de acções hostis por parte dos EUA e da União Europeia contra a Rússia, uma Rússia capitalista mas que é vítima, desde o desmantelamento da URSS, de uma sucessão de actos hostis, entre os quais: o alargamento imparável e interminável da NATO; a instalação de mísseis e sistemas anti-mísseis junto das suas fronteiras; sucessivas alterações das doutrinas militares dos EUA e NATO para incluir a hipótese de ataques nucleares ‘preventivos’; actos agressivos como os ataques da Geórgia em 2008 ou a subversão comandada a partir do exterior na Ucrânia em 2014, e em que o fascismo desempenha um papel central. Esta escalada de hostilidade por parte das tradicionais potências imperialistas dirige-se também, de forma cada vez mais aberta, contra a República Popular da China e outros países que se recusam a ser meros vassalos do imperialismo. Inseparável do aprofundamento da crise estrutural do capitalismo, da profunda alteração na correlação de forças económicas a nível mundial e do acirrar das contradições e rivalidades em todas as frentes, o crescente militarismo e belicismo dos EUA, da UE e do seu braço armado, a NATO, representa um enorme perigo para todos os povos e para a Paz mundial.

5. Lembrar Hiroxima e Nagasáqui não é, pois, falar apenas da História e do passado. É falar dos perigos reais do presente. É lembrar a necessidade urgente de intensificar a luta contra o militarismo, o fascismo e a guerra, contra a política agressiva do imperialismo, pela dissolução da NATO, pela solução pacífica dos conflitos com respeito pela soberania dos povos, pelo desarmamento e, em particular, pelo fim de todas as armas nucleares, químicas, biológicas e de destruição massiva. A luta pela Paz é indissociável da luta pelo progresso social.

6. O PCP, ao recordar o holocausto nuclear de Hiroxima e Nagasáqui, apela aos trabalhadores e ao povo português para redobrar a luta pela Paz e contra as guerras imperialistas; pela dissolução da NATO; contra o aumento dos gastos militares e o militarismo decididos quer pela NATO, quer pela UE; pela assinatura por Portugal do Tratado pela Proibição das Armas Nucleares, aprovado na Assembleia Geral da ONU em 2017, mas recusado pelas potências nucleares e pela NATO.

Assume particular gravidade a disponibilidade revelada pelo governo do PS para o aumento das despesas militares para 1,98% do PIB até 2024 no quadro dos compromissos com a NATO.

O governo português tem a obrigação Constitucional de pugnar pela paz, a amizade e a cooperação com todos os povos do mundo e não de apoiar e se envolver na estratégia de agressão e ingerência que EUA e União Europeia promovem. Mas terão de ser os povos do mundo a impôr às forças da guerra e agressão imperialista, a defesa da Paz e a garantia de que o horror de Hiroxima e Nagasáqui não mais se repetirá.

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