Intervenção de Bruno Dias na Assembleia de República

A melhoria dos indicadores económicos, nomeadamente no turismo

Sr.ª Presidente,
Sr. Deputado Hélder Amaral,
Falou dos bons resultados do setor do turismo registados até agora, este ano, e principalmente este verão, e o que quero dizer, em primeiro lugar, é que ainda bem que há bons resultados neste setor.
Quando o turismo ganha, ganhamos todos, dirá V. Ex.ª. Pois é, o problema é que uns ganham quase tudo e outros ganham quase nada. Aliás, não admira que V. Ex.ª tenha vindo outra vez com o andor do Fórum da competitividade, que é, afinal, o inquérito ao patronato, que dirá, certamente, que em Portugal se está muito bem com a concentração de riqueza, em que a parte dedicada aos salários e aos trabalhadores é cada vez menor face à riqueza que é gerada e obtida.
E é essa, exatamente, a questão incontornável que se coloca, que é sobre a tradução concreta dos resultados que aqui referiu.
Sr. Deputado, não considera que está mais do que na hora de que os bons resultados em setores como o do turismo, que se verificaram agora, se devem traduzir, finalmente, na compensação, na atualização e nos aumentos dos salários que os trabalhadores devem exigir e merecer no setor do turismo, ao contrário do que tem acontecido, até com salários em atraso, situação que fomos acompanhando ao longo destes meses, em determinadas cadeias hoteleiras e em determinadas empresas que continuam a tratar os seus trabalhadores de uma forma indigna?
De resto, Sr. Deputado, há algo de errado no retrato que procurou trazer aqui. Os senhores, que durante estes anos têm falado tanto do modelo de crescimento assente nas exportações, deviam, porventura, ter menos foguetório, mais prudência e mais respeito pelas dificuldades que o País continua a atravessar.
É que, Sr. Deputado, sabe o que se passou nos primeiros sete meses deste ano? Eu digo-lhe: a balança de bens e serviços agravou-se em 847 milhões de euros face ao período homólogo do ano passado. Mesmo com os resultados positivos do turismo, as outras componentes evoluíram negativamente na balança, de tal maneira que quase engoliram esses indicadores. Esta realidade concreta, em que as importações de bens crescem três vezes mais do que as exportações, deve dar que pensar e fazem desabar, com estrondo, a propaganda do Governo.
Para terminar, Sr. Deputado, uma última questão que o senhor ignorou completamente, mas que não pode deixar de abordar na sua resposta: o IVA da restauração.
Quando os empresários da restauração, de Norte a Sul do País, enfrentam dificuldades crescentes porque incorporam o aumento do IVA, este aumento brutal de impostos, esta carga fiscal que está a ser aplicada por este Governo e que, não aumentando os preços, acabam por assumir, com o seu próprio prejuízo, a asfixia fiscal que este Governo tem vindo a fazer, era muito importante que o autoproclamado partido do contribuinte tivesse aqui uma palavra contra esta indigna política que tem vindo a ser levado a cabo neste setor fundamental da economia, que também tanto contribui para o turismo e para os números que V. Ex.ª apresentou.
É uma boa oportunidade que V. Ex.ª tem para fazer justiça, corrigindo o silêncio tão ensurdecedor que dirigiu à restauração deste País.

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