A fome e a malnutrição infantil têm uma dimensão estrutural e causas muito concretas:
- O favorecimento do modelo agro-industrial de cariz exportador, da grande indústria agro-alimentar, e o consequente empobrecimento qualitativo do sector agrícola mundial;
- Anos e anos de investimentos insuficientes na agricultura, de promoção do abandono agrícola, de liquidação da agricultura familiar e das pequenas e médias explorações agrícolas - sector que assegura a subsistência 70 % das populações pobres do planeta;
- O fundamentalismo de mercado, as políticas de privatização e de liberalização, o livre comércio, tiveram e têm como consequência o abandono da terra, a concentração da sua propriedade, o domínio da produção por alguns, poucos, e a dependência alimentar de muitos.
A fome e a malnutrição infantil são um vivo libelo acusatório que pesa sobre um sistema injusto, explorador e opressor – e, por isso mesmo, historicamente condenado.
É lamentável, mas elucidativo, que aqui se aborde a luta contra a fome e a malnutrição como um “investimento rentável para os doadores”. Esta luta deve resultar, sim, de um dever ético indeclinável e é, antes de tudo o mais, uma questão de justiça.