Intervenção de Bruno Dias na Assembleia de República

Via Longitudinal de Portugal — EN2 e a sua valorização

Sr. Presidente,
Sr.as e Srs. Deputados:
Depois de anos e anos de desinvestimento e cortes orçamentais na conservação e beneficiação da rede viária nacional, depois de milhares de milhões de euros enterrados em PPP (parcerias público-privadas) em detrimento das estradas nacionais e regionais, depois do desmantelamento de serviços e estruturas técnicas no terreno, depois de tudo isso, eis que agora o PSD e o CDS foram os dois passear e descobriram a estrada nacional n.º 2.
Com certeza, Srs. Deputados, a conservação e a valorização da estrada; com certeza a requalificação dos marcos e da sinalética; com certeza as tecnologias digitais na promoção e divulgação; com certeza, estamos todos de acordo. O que é inacreditável é os senhores agora proporem intervenções de segurança rodoviária quando há um ano e meio chumbavam propostas de intervenção em estradas onde ainda agora continuam a acontecer tragédias, como há dias foi o caso no IC1.
O que é inacreditável é virem falar agora de atividades turísticas — a restauração, o comércio local — na proximidade da estrada quando, na verdade, os micro e pequenos empresários, nestas atividades e nestes locais, são confrontados com taxas abusivas e inaceitáveis pela Infraestruturas de Portugal, fruto da lei que os senhores aprovaram. Da parte do PCP, não haverá obstáculos ou impedimentos a que possa avançar, a partir da estrada nacional n.º 2, uma estratégia de valorização do território do interior do País, de promoção e divulgação das regiões, do seu património e identidade, mas queremos deixar aqui uma palavra sobre um pequeno pormenor que parece ter ficado esquecido em alguns discursos. Falamos das populações locais, falamos de todos aqueles que vivem, trabalham, estudam nas regiões que são servidas por esta estrada e que, por isso, a utilizam no seu dia a dia. Falamos das populações afetadas, ao longo de anos e anos, por políticas de direita de abandono do interior, de encerramento de empresas, de serviços públicos, de postos de trabalho, de imposição de portagens em SCUT. As pessoas que enfrentam estes problemas, que estão lá, nestas regiões, todos os dias e que precisam desta estrada e das outras estradas não podem ser esquecidas, como têm sido. Nós somos favoráveis à divulgação e à promoção turística. Por isso mesmo, saudamos o trabalho no terreno que está a ser feito pelo poder local e pelo movimento associativo; por isso mesmo, queremos sublinhar que estas regiões do interior do País são algo muito mais importante do que paisagem para turista ver.

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