Intervenção de Bruno Dias na Assembleia de República

Interpelação sobre o sector empresarial do Estado

(interpelação n.º 11/XI/2.ª)

Sr.ª Presidente,
Sr. Ministro de Estado e das Finanças, Há pouco proclamou-se, mais uma vez, como um campeão das privatizações e até já ouvimos neste debate, da sua parte e da parte da bancada do PS, a interessantíssima acusação ao CDS e ao PSD no seguinte sentido: «vocês privatizaram muito, mas muito menos do que os governos do PS!».
Aqui temos, portanto, o que é afinal a esquerda moderna: é a esquerda que privatiza muito mais do que a direita, que decreta cortes totalmente cegos na operação das empresas e de
serviços públicos fundamentais para as populações e para a economia nacional, que manda fazer uma razia, dê lá por onde der, mesmo que isso signifique milhares de trabalhadores — e trabalhadores experientes, qualificados — mandados para o desemprego.
Por exemplo, há meses e meses que os senhores fazem de conta que não ouvem e não vêem, fazem de conta que não receberam nada sobre as questões que apresentámos em relação, nomeadamente, ao negócio imobiliário que envolve os CTT e a Mota-Engil no edifício Báltico, aqui em Lisboa, com os 4,3 milhões de euros de rendas por ano, mais os 3 milhões para
adaptações do edifício. Sobre isso, os senhores fazem de conta que não ouviram, mas não hesitam em comprometer o direito das populações ao transporte público, ao serviço público postal, em penalizar as populações com preços e tarifas cada vez mais caras, prejudicando a vida das populações e prejudicando, a prazo, a sustentabilidade do País.
Aí, já os senhores encontram desperdício por toda a parte, mesmo quando aquilo que os senhores consideram desperdício é, na verdade, serviço público fundamental para o País e para as populações.
E também não hesitam em ameaçar o futuro de empresas fundamentais para o País, estratégicas para a nossa economia, como é o caso da EMEF ou da TAP — incluindo a sua manutenção aeronáutica — ou o dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo.
A verdade, Sr. Ministro, é que os sucessivos governos vêm ateando estes incêndios do subfinanciamento, dos cortes orçamentais, do endividamento das empresas do sector empresarial do Estado e, agora, dizem que temos de os apagar com gasolina. É esta a política dos governos anteriores que o Sr. Ministro das Finanças está a continuar e a agravar.
Quando os senhores falam em cortes orçamentais, em cortes no investimento, em privatizações, os senhores falam muito em sustentabilidade, mas o Sr. Ministro das Finanças não vê que, a
prazo, é o País que fica insustentável, com as políticas que os senhores estão a desenvolver?! Não vê que, assim, produzimos cada vez menos, importamos cada vez mais e ficamos cada vez mais dependentes do exterior?!
É esta a modernidade que os senhores querem impor ao País?!

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