Intervenção de Bruno Dias na Assembleia de República

"O Governo tem feito muito pelo rendimento de algumas famílias"

(interpelação n.º 19/XII/4.ª)

Sr. Presidente, Sr. Ministro da Economia,

Na sua intervenção e num registo que lhe é habitual, fez um autoelogio valorizando o muito que o Governo tem feito pelos rendimentos das famílias. Isso será verdade, na parte que diz respeito a famílias, como a família Amorim, a família Soares dos Santos, a família Azevedo, da Sonae, e até a família Espírito Santo. Essas famílias, certamente, não se queixarão daquilo que o Governo tem feito.

Porém, para a imensa maioria das famílias portuguesas, para a imensa maioria do povo português, em matéria de política de rendimentos, Sr. Ministro, não queira saber o que certamente andam a dizer de si e do seu Governo, de norte a sul deste País.

E com a política de privatizações que os sucessivos Governos PS, PSD e CDS têm levado a cabo e que este Governo acelerou, acentuou e agravou de uma forma verdadeiramente escandalosa, com aquilo que está a acontecer com a retirada de recursos fundamentais em dividendos que todos os anos saem do País, para quem comprou ações de empresas estratégicas deste País, como é o caso da REN, da EDP, dos CTT, e que, poucos meses depois, já estavam a levar para casa dezenas de milhões de euros de dividendos, aquilo que se pode dizer é que o País está a perder, e muito, com a vossa política, em favor de algumas famílias, algumas nem sequer terão nome nem rosto, que estão atrás de interesses como os da Goldman Sachs, Deutsch Bank e companhia.

O senhor falou de mérito e de empreendedorismo. A pergunta que lhe fazemos é esta: o que é que o mérito e o empreendedorismo têm a ver com a defesa de setores fundamentais que têm vindo a ser desmantelados e encerrados na sequência de privatizações?

Os senhores querem fazer à EMEF (Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário) o que se fez com a SOREFAME: vender a algum privado que venha cá, encerre a porta e mande as pessoas para o desemprego.

Os senhores querem fazer à TAP o que os Governos anteriores, do PS e do PSD, tentaram fazer e, felizmente, não conseguiram, usando argumentos que hoje veio trazer, sobre o caráter estratégico da companhia, sobre a importância fundamental para o País e para a economia nacional, precisamente os mesmos argumentos que deveriam ser levados em conta para travar e cancelar o processo da privatização.

As privatizações em geral e esta em particular que está em cima da mesa, como é o caso da TAP, são exemplos concretos de como é necessário e indispensável travar essas decisões.

Por isso, perguntamos, Sr. Ministro, se não está na hora de inverter esta política, se não está na hora de deixar de defender de forma tão acesa essas famílias que continuam a querer defender e virarem-se efetivamente para a defesa do interesse nacional.

  • Administração Pública
  • Assuntos e Sectores Sociais
  • Economia e Aparelho Produtivo
  • Trabalhadores
  • Assembleia da República
  • Intervenções