Intervenção de António Filipe na Assembleia de República

Falta de políticas para o crescimento e o emprego, ausência de uma agenda europeia e a necessidade de concertação social

Sr.ª Presidente,
Sr.ª Deputada Maria de Belém Roseira,
Em primeiro lugar, desejo-lhe um bom ano de 2012.
Sr.ª Deputada, relativamente à intervenção que acabou de fazer, somos forçados a verificar que o PS vem condenar as consequências de uma política tendo não só absolvido as suas causas como tomando parte ativa nas suas causas. Ou seja, o que o PS vem fazer, no fundo, é criticar o Governo por dar continuidade a uma política pela qual o PS tem uma inteira responsabilidade.
Porque, senão, temos de perguntar se o PS nunca ouviu falar da troica; se o PS não conhece o Memorando que subscreveu com a troica e as consequências dessa verdadeira agressão contra o povo português, contra os trabalhadores, contra os reformados, contra as camadas sociais mais desfavorecidas do nosso País!… Ou seja, o Partido Socialista não pode ignorar as consequências sociais daquilo que subscreveu enquanto governo e daquilo que subscreveu enquanto signatário do acordo com a troica.
A Sr.ª Deputada vem dizer-nos que, apesar de isto ser inevitável, tem de haver uma agenda para o crescimento, tem de haver crescimento económico, senão o País não pode ultrapassar a crise. Sr.ª Deputada, isso até o PSD e o CDS dizem, mas a questão é que, por muitas voltas que os senhores queiram dar, por muito que possam dizer, dois mais dois são quatro, não são cinco! E se os senhores aceitam como inevitável que os portugueses vejam os seus salários cortados, vejam diminuir o seu poder de compra e tenham de trabalhar mais 20 dias gratuitamente nos próximos tempos, que os impostos aumentem, que aumente o IVA, que seja reduzido o investimento…
(…)
Sr.ª Presidente, vou concluir.
Sendo esta a minha intervenção em 2012, temos razões para ter confiança em que as próximas correrão melhor — em termos de som, claro!
Sr.ª Deputada Maria de Belém, concluo dizendo que nos parece completamente impossível pensar que, aceitando como boas as medidas que decorrem do acordo celebrado com a troica, pelo qual o Partido Socialista assume responsabilidade, as políticas seguidas pelo Governo PSD e CDS plasmadas, designadamente, no Orçamento do Estado para 2012, seja viável ter uma agenda para o crescimento. É completamente impossível!
senhores dirão: «O Governo está a ir para além da troica». Mas a pergunta que faço é se os senhores, porventura, no Orçamento do Estado para 2012, votaram contra as medidas que dizem irem para além da troica.
Dir-me-ão: «Mas foi uma abstenção violenta». E eu direi, Sr.ª Deputada, que violento vai ser o ano de 2012, infelizmente, para a grande maioria dos portugueses.
Aplausos do PCP.

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