Intervenção de Joana Carvalho, membro da Organização na Emigração e 1.ª candidata pelo círculo da Europa, Encontro Nacional do PCP sobre eleições e a acção do Partido

A emigração e os emigrantes

A emigração e os emigrantes

Camaradas,

As eleições para a Assembleia da República no próximo dia 10 de Março são muito importantes, e também o são para as comunidades emigrantes portuguesas.

Nestas eleições que se aproximam, os portugueses terão a oportunidade de eleger deputados verdadeiramente empenhados e com provas dadas na defesa dos seus interesses e aspirações.

É necessário dar mais força ao PCP e à CDU para garantir uma verdadeira mudança de rumo, que é urgente! Portugal, os portugueses, as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, merecem e precisam de uma outra política.

Como disse o escritor Theodor Kallifatides “a emigração é quase como um suicídio parcial. Não morres, mas muita coisa morre dentro de ti”.

Saí, como muitos de nós saíram, na busca de melhores condições de vida, fugindo da precariedade e do desemprego, da falta de condições de trabalho, dos salários baixos e de condições de vida difíceis.

Esta é a minha realidade e a de tantos outros com quem falamos! Emigrar não foi uma escolha verdadeiramente livre, e teve pesados custos
pessoais. Morre-se um bocadinho a cada despedida, a cada mala desfeita regressa-se a uma segunda casa que não é verdadeiramente nossa, mas que tudo fazemos para que seja. Faz-se a mala e põe-se lá dentro a tristeza de deixar para trás a família, amigos e referências com as quais crescemos. É cruel!

Trago-vos à memória os anos da Troika e pós-Troika, período em que milhares de portugueses, como eu, foram empurrados para uma saída não desejada.

Lembram-se do então Secretário de Estado da Educação incentivar os jovens a “saírem da sua zona de conforto”? Mais recentemente, não foi Montenegro quem disse que a “crise é uma oportunidade para mudar de vida”?

E terá a situação melhorado com o governo PS?

Não, camaradas, não mudou!

Dados mais recentes do Observatório da Emigração reportam números extraordinários e mesmo preocupantes! 850 mil portugueses entre os 15 e os 39
anos vivem fora de Portugal. O número de nascimentos de filhos de mãe portuguesa no estrangeiro já representam 20% do total em Portugal. Em 20 anos, 15% da população portuguesa emigrou.

Estes números fazem de Portugal o primeiro país da Europa, e o oitavo do mundo, com mais emigração.

Não podemos estar condenados a ser um País de emigrantes, em que a nossa juventude se vê forçada a emigrar! Gerações e gerações! Portugal não pode continuar a ser uma peça na engrenagem desta União Europeia, em que alguns países, como Portugal, apenas servem para produzir quadros qualificados que vão desenvolver países que não contribuíram em nada para a sua formação, e que tanta falta aqui fazem.

Médicos, enfermeiros, professores, engenheiros, investigadores, pedreiros, serralheiros, carpinteiros e tantos, tantos outros.

É por isso, camaradas, que programas como o “Regressar” são um verdadeiro insulto. Não são programas desta natureza que irão facilitar o regresso desejado por muitos.

Falemos sim de medidas que resultem em melhorias no acesso à habitação, ao emprego, e ao emprego com direitos, a salários dignos! Essas sim, são medidas necessárias e urgentes ao nosso país, que se quer desenvolvido e com futuro!

É por este país que o PCP e a CDU lutam todos os dias!

Como disse logo no início, não morres, mas muita coisa morre dentro de ti.

Morre-se um bocadinho quando os consulados falham no cumprir das suas funções mais básicas, quando os nossos filhos não têm acesso ao Ensino da Língua Portuguesa, quando as nossas colectividades - muitas delas existindo apenas pela carolice de alguns - têm muitas dificuldades em manter as portas abertas.

O governo português não se pode demitir das suas responsabilidades constitucionais devidas às comunidades emigrantes. Temos que promover o acesso à cultura e à língua. Ambas são identitárias, fazem de nós aquilo que somos.

Reafirmamos - viver fora de Portugal para muitos não foi uma escolha e mesmo que tenha sido! Temos direito à cultura, temos direito a que os nossos filhos possam aprender a nossa língua - o português - temos direito às nossas colectividades, e que estas, enquanto entidades promotoras e divulgadoras da cultura e da língua portuguesa, sejam devidamente apoiadas para que possam funcionar em pleno.

O PCP, a CDU, como sempre, lutará pela defesa dos legítimos interesses e aspirações dos portugueses residentes no estrangeiro. Defendemos o Ensino do português como língua materna, a eliminação da propina e a gratuitidade dos manuais escolares, a exemplo do que está em vigor em Portugal, medida esta, aliás, concretizada por iniciativa parlamentar do PCP.

Defendemos o reforço da rede consular onde esta é tão necessária, e o seu financiamento adequado, para possa haver um apoio efectivo das comunidades emigrantes portuguesas.

Defendemos o apoio ao Movimento Associativo.

Defendemos o Conselho das Comunidades Portuguesas, reconhecendo e valorizando o seu papel como órgão representativo das nossas comunidades, e enquanto órgão consultivo do Governo em matérias relevantes para a emigração.

Defendemos, e exigimos, que o governo português adopte e aplique políticas para as comunidades emigrantes, que defendam os seus direitos sociais e políticos.

Camaradas,

Façamos ainda uma reflexão sobre a campanha às últimas eleições para a Assembleia da República.

PS, PSD, IL e Chega têm uma prática política, nomeadamente na Assembleia da República, bem distinta do seu discurso e promessas eleitorais. As palavras que saem da boca dos seus representantes são inconsequentes. Não faltaram oportunidades de melhorar as nossas condições de vida. Nada foi feito nos últimos dois anos, nada foi feito nas últimas décadas.

Na campanha eleitoral, que agora se aproxima, ouviremos certamente, uma vez mais, promessas antigas e problemas fantasma. Irão repetir que o problema é a distância, o alheamento, a falta de interesse, o número de deputados eleitos pela emigração. Não é! O problema é a falta de vontade política em implementar medidas há muito necessárias!

Camaradas,

No trabalho de investigação, quando se faz ciência, é muitas vezes necessário mudar os parâmetros e o planeamento experimental para obter resultados, progredir, e aumentar o nosso conhecimento do mundo.

Já a ciência da vida ensinou-nos que o voto no PS, PSD, IL e Chega são experiências falhadas, que nada de bom trazem aos trabalhadores.

É preciso mudar de rumo, é preciso votar na CDU, que esteve, e estará, ao lado das comunidades emigrantes portuguesas!

Vamos à luta!
Viva a JCP!
Viva o PCP!
Viva a CDU!