Sr.ª Presidente,
Srs. Deputados:
O brilhantismo desta decisão do Governo, que não está escrita em plano estratégico nenhum — e bem se podem gabar dos debates que não fazem sobre o plano estratégico de transportes, para depois aparecer uma coisa no plano estratégico, à revelia de tudo o que dizem, como facto consumado, que é a supressão do comboio e a eliminação do transporte ferroviário —, é de tal ordem que a Refer, em junho do ano passado, concluiu a remodelação da estação de Setúbal por 14,3 milhões de euros. E para quê? Para incluir linhas de passagem de serviços de longo curso. Agora, com esta decisão, sai a linha de longo curso! Alegam o aumento da velocidade dos comboios. Ora, a velocidade passa de 83,6 km por hora para 86,9 km por hora, em velocidade média!
Srs. Deputados, na verdade, com este quadro, fica a ideia de uma tentativa de acelerar o Intercidades para acabar com o Alfa Pendular. Por isso, tenham cuidado com o que estão a dizer, porque, segundo informações publicadas recentemente, a CP também tinha intenções de acabar já com o Alfa Pendular na linha do Sul, mas não o vai fazer por agora. A opção que estava em cima da mesa devia-se ao desgaste que os comboios pendulares estavam a ter na serra algarvia. Por isso, aumenta-se esta maravilha de 3 km por hora, em velocidade média, para que, mais tarde ou mais cedo, seja mais fácil eliminar o comboio Alfa para o sul do País.
Por isso, tenham cuidado com o triunfalismo, Srs. Deputados!
Consideramos que este debate é da maior importância, Saudamos, pois, o Partido Ecologista «Os Verdes» pelo projeto apresentado, pela iniciativa do agendamento deste debate sobre um assunto da maior gravidade para as populações, para o transporte ferroviário no distrito de Setúbal, no Alentejo Litoral e, de uma forma geral, no sul do País, porque este não é um problema apenas da cidade de Setúbal ou do Algarve. Sabemos que há pessoas que vivem e trabalham e precisam de ter transporte ferroviário entre Setúbal e Tunes.
Tal como sabemos que isto significa um retrocesso — já aqui o referimos a propósito da televisão digital terrestre — de 60 anos, para o tempo em que não havia televisão, que é o que muita gente vai sentir na próxima semana. Assim como também já referimos o retrocesso de mais de 100 anos, para o tempo anterior à jornada de 8 horas de trabalho, com a lei da I República para o sector do comércio. Agora, com esta decisão, recuamos 122 anos, para o tempo em que não havia comboios para o sul do País a partir de Setúbal e do Alentejo Litoral.
Não pode ficar sem registo a argumentação provocadora e hipócrita do PSD, um partido que matou a ferrovia em Bragança e em Viseu, que, a propósito da supressão de comboios em Setúbal, vem dizer que podiam estar pior, porque podiam estar como em Bragança ou em Viseu. Haja vergonha na cara, Sr. Deputado Adriano Rafael Moreira! Se os senhores não soubessem, ainda podiam alegar desconhecimento, mas sabem do que estão a falar e, como tal, é ainda mais grave e inadmissível o que estão a fazer!
Por isso, saudamos e valorizamos as ações e jornadas de luta que já aconteceram em Alvalade, em Alcácer, na Baixa da Banheira, que reuniram as populações, os utentes dos transportes, a população local, que se ergueu e levantou a sua voz contra este assalto que está a ser feito à sua mobilidade, ao transporte ferroviário, ao serviço público, porque o transporte ferroviário, como os Srs. Deputados muito bem têm a obrigação de saber, é como um rio caudaloso, que não vive sem afluentes. Sabemos que a luta das populações e a luta dos trabalhadores ferroviários vai ser essencial, insubstituível e decisiva para combater esta política de desmantelamento, de desastre nacional que os senhores estão a desenvolver, seguindo entusiasticamente o pacto de agressão que a troica portuguesa assinou com a troica estrangeira.