Intervenção de António Filipe na Assembleia de República

As eleições realizadas na Região Autónoma da Madeira

Sr.ª Presidente,
Sr. Deputado Luís Montenegro,
Na sua intervenção, ao analisar e ao aludir aos resultados eleitorais da Região Autónoma da Madeira, disse que se iniciava um novo ciclo.
Sr. Deputado, o PSD, na Madeira, governa com maioria absoluta há 35 anos. No próximo mandato, essa maioria absoluta, embora muito mais reduzida, mantém-se. Pergunto: quais vão ser as características deste novo ciclo?
Enfim, é uma interrogação que fica no ar, depois da sua intervenção.
De facto, e porque foi notório, o PCP verificou a frieza com que o PSD nacional acolheu os resultados do PSD-Madeira. Talvez isso não tenha sido alheio ao facto de ter havido no PSD dois discursos completamente diferentes: o discurso nacional do PSD e o discurso eleitoral do PSD-Madeira, procurando demarcar-se de opções fundamentais do PSD nacional, de forma a manter a maioria absoluta na Região Autónoma da Madeira e a conseguir captar o eleitorado.
Mas também é uma evidência — e não é preciso ser adivinho para o prever — que as posições manifestadas com toda a contundência pelo Dr. Alberto João Jardim na campanha eleitoral
não vão ser seguidas, de maneira nenhuma, pelos Srs. Deputados do PSD eleitos do PSD pela Região Autónoma da Madeira para a Assembleia da República. Isso é uma evidência! Uma coisa foi o discurso eleitoral na Madeira, outra coisa é o que os Deputados do PSD, e mesmo os do PSD-Madeira, vão tomar nesta Assembleia, sobre questões decisivas quanto ao futuro próximo dos madeirenses.
O Sr. Deputado Luís Montenegro fala como se os madeirenses, em geral, tivessem ficado todos ricos com a dívida da Madeira e agora tenham que pagar essa dívida. Sr. Deputado, não é verdade,
não é verdade! Os madeirenses não são responsáveis pelos desvarios da governação do PSD na Madeira, como também não são responsáveis pelos desvarios da governação nacional do Partido Socialista que também tem, obviamente, consequências sobre a situação social na Região Autónoma da Madeira.
Sr. Deputado, quando fala na sua intervenção, em programa de ajustamento necessário sem dizer no que vai consistir, a questão decisiva é a de saber se os senhores pretendem que o povo da Região Autónoma da Madeira seja duplamente prejudicado e que exista, para os cidadãos da Madeira, o que podemos chamar de dupla autoridade. Isto é, para além de pagarem os sacrifícios injustos que querem impor à generalidade do povo português, a questão é a de saber se os senhores querem impor sacrifícios adicionais ao povo da Região Autónoma da Madeira.
Sobre isso, os senhores não são claros, mas era muito importante saber se é intenção do PSD e do
Governo penalizar duplamente os cidadãos da Região Autónoma da Madeira. Pelo vosso discurso, temos receios, muito fundados de que seja exactamente essa a vossa intenção.

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