O PCP teve conhecimento da decisão da multinacional japonesa Talaris levar a cabo um despedimento coletivo de 37 trabalhadores do departamento comercial e financeiro e da linha de produção.
A multinacional Talaris, que em Portugal em cerca de 200 trabalhadores, pretende deslocalizar para a China a fabricação e manutenção de máquinas multibanco e de outros equipamentos de gestão de numerário, bem como transferir para Espanha o departamento e serviços administrativos e financeiros.
A multinacional Talaris, sediada em Torres Vedras e com instalações também em Sintra, foi adquirida em Julho de 2012 pela multinacional japonesa Glory, tendo obtido anualmente resultados líquidos de cerca de 1,5 milhões de euros.
A Talaris, sucedendo à Delarue e à Papelaco, beneficiou ao longo de anos de inúmeros apoios públicos resultantes de contratos de investimento celebrados com o Estado, de 320 mil euros e mais recentemente no âmbito de incentivos e benefícios fiscais do Programa SIFIDE, de cerca de 1,5 milhões de euros.
Depois de ter recebido durante anos apoios públicos, a Talaris tem tomado nos últimos tempos medidas que apontam para a intenção de fechar portas e deslocalizar-se. Além da progressiva redução de trabalhadores também a deslocalização de linhas de produção para outros países indicia essas intenções.
Por outro lado, a deslocalização para outros países (nomeadamente a China) da linha de produção com enorme potencial produtivo e alto valor tecnológico incorporado, visando a mesma produção que hoje se faz em Torres Vedras, criam legítimas suspeitas de que a empresa se prepara para se deslocaliza de vez encerrando a unidade em Portugal.
Considerando os níveis de atividade, resultados e projeções de crescimento é absolutamenteinaceitável e injustificável que a Administração da Talaris avance para um despedimento coletivo e deslocalização da produção. De acordo com o nº2 do artigo 359 do Código do Trabalho, são considerados como fundamentos do despedimento coletivo “motivos de mercado, estruturais ou tecnológicos”. Ora, nenhum destes se verifica. Inclusivamente, a Administração da Talaris não documentou com elementos concretos e fatuais esta decisão.
Aliás, em Outubro de 2012, a Talaris ganhou o concurso para assegurar este serviço à CGD para 3 a 5 anos.
Importa ainda referir que esta empresa tem toda a viabilidade económica e tem apresentado sempre uma fatura de custos associada ao volume de vendas, e até 2006 teve 80% da quota de mercado nesta área.
Este despedimento é ainda mais grave, quando poderá significar destruição líquida de emprego, destruição de capacidade e investimento produtivo e tecnológico e destruição da única fábrica de máquinas multibanco e de outros equipamentos de gestão de numerário em Portugal e na Europa.
Considerando a situação de instabilidade e incerteza que se vive em Torres Vedras e as preocupações que também aqui existem quanto ao futuro da unidade industrial e sobretudo dos postos de trabalho, exige-se do Governo uma atitude firme em defesa do interesse dos trabalhadores e da economia regional e nacional.
Exige-se do Governo que esclareça com clareza quais as responsabilidades assumidas pela empresa nos contratos celebrados com o Estado, mas também uma atitude firme na exigência do seu cumprimento e na definição de soluções que garantam a manutenção dos postos de trabalho e o desenvolvimento da atividade económica no futuro.
O PCP considera ser fundamental que o Governo, designadamente através do Ministério da Economia e Emprego, utilize todos os meios à sua disposição para:
•Saber exatamente quais os compromissos assumidos pela empresa com o Estado aquando da obtenção dos apoios;
•Exigir à empresa a clarificação das medidas tomadas nos últimos tempos de deslocalizaçãoda linha de produção e de redução de pessoal e das suas intenções quanto ao futuro;
•Exigir ao Governo a assunção de uma posição intransigente em defesa da salvaguarda de todos os postos de trabalho diretos e indiretos e consequente anulação do despedimeto coletivo, e de defesa da economia regional e nacional.
Assim, e ao abrigo das disposições legais e regimentais aplicáveis, solicito através de V. Exa.,ao Ministério da Economia e do Emprego, os seguintes esclarecimentos:
1.Que documentos, estudos ou relatórios recebeu o Governo da Administração da Talaris para
fundamentarem os motivos de despedimento coletivo?
2.Que compromissos foram assumidos e que apoios públicos receberam as empresas Delarue e Talaris?
3.Quais os prazos definidos para o cumprimento dessas obrigações e obtenção dos referidos apoios?
4.Que medidas tomou o Governo para fiscalizar e garantir o cumprimento das obrigações assumidas pela empresa?
5.Como avalia o Governo a progressiva redução de pessoal e transferência da linha de produção para outros países por parte da Talaris?
6. Que medidas vai o Governo adotar e em que prazo para evitar o despedimento coletivo?Que medidas vai o Governo adotar para evitar o incumprimento por parte da empresa dos compromissos que assumiu, nomeadamente para evitar o processo de deslocalização que parece estar em curso?
Pergunta ao Governo N.º 1449/XII/2
Despedimento coletivo ilegal na Talaris Portugal SA, Torres Vedras
