Depoimentos Internacionais - XVII Congresso do PCP

Publicamos alguns depoimentos recolhidos junto de representantes de partidos estrangeiros que participaram nos trabalhos do XVIII Congresso do PCP
Avante Edição N.º 1829, 18-12-2008

Palestina

A Palestina vive uma situação trágica à qual, até agora, Israel não deu nenhum sinal favorável a uma solução justa ao conflito, afirmou Haider Awad Allah, membro do Bureau Político do Partido do Povo Palestiniano (PPP).
Pelo contrário, Israel utiliza a passividade internacional para ocupar novos territórios e continuar a cometer crimes de guerra na Faixa de Gaza, onde vivem 1,5 milhões de palestinianos, utilizando como pretexto o terrorismo islâmico do Hamas.
Para o PPP, só há duas soluções: ou Israel reconhece o direito dos palestinianos a um Estado independente em todo o território ocupado desde 1967 ou favorece a criação de um único Estado. «Os problemas israelitas não podem ser resolvidos à nossa custa», disse Awad Allah.
«Não temos ilusões sobre a nova administração dos Estados Unidos. Desejamos que o presidente Obama reconheça todos os direitos do povo palestiniano, mas sabemos que isso também depende da nossa luta e persistência.»
No actual quadro de divisão política da sociedade palestiniana, o PPP defende a celebração de eleições legislativas para que o povo possa escolher os seus representantes: «Como comunistas cremos que o projecto de criar um Estado palestino apenas na Faixa de Gaza põe em perigo a concretização do projecto de independência do povo palestiniano e conduzirá à criação de um regime islâmico que é contrário à nossa constituição».

Grécia

O agravamento da situação social é a principal marca da actualidade na Grécia, considerou Dimitris Koutsoumpas, membro do Bureau Político do CC do Partido Comunista da Grécia.
O alargamento da luta de massas abre novas perspectivas de desenvolvimento do movimento popular. No entanto, o envolvimento de novas camadas sociais com menor consciência de classe comporta o perigo do ressurgimento do reformismo e do oportunismo, bem como o perigo de um retrocesso da consciência social. O combate a estas tendências prejudiciais no movimento de massas exige o reforço político-ideológico do partido, bem como o seu fortalecimento orgânico nas empresas e locais de trabalho, questões que têm dominado o debate preparatório do próximo congresso PCG, marcado para o mês de Fevereiro.
Os comunistas gregos lutam pela constituição de uma ampla frente social e política que reivindique o controlo do poder político e da economia do país com vista à construção do socialismo.
No actual quadro de aprofundamento da crise do capitalismo e agudização das suas contradições, o PCG atribui uma importância fundamental à cooperação internacional entre partidos comunistas, operários e outras forças progressistas, bem como apoia a acção das organizações anti-imperialistas internacionais como a Federação Mundial de Sindicatos e o Conselho Mundial para a Paz e Cooperação.
Também no plano europeu, o PCG promove activamente a cooperação com partidos e outras forças anti-imperialistas para enfrentar a ofensiva do capital e dinamizar a luta dos povos contra esta união imperialista que é a União Europeia.

Chipre

Pôr termo à ocupação turca de parte da Ilha e conseguir a reunificação do país são objectivos prioritários do actual governo do Chipre, liderado pelo presidente Dimitri Christofias, secretário-geral do Partido Progressista do Povo Trabalhador (AKEL).
O AKEL, principal força política do país, dispondo de 18 deputados num total 56 lugares no parlamento, apoia activamente e saúda o início das negociações entre os líderes das comunidades grega-cipriota e cipriota-turca.
Como declarou ao Avante! Christalla Antoniou, que integrou a delegação dos comunistas cipriotas ao XVIII Congresso do PCP, a solução do problema do Chipre, que entra agora numa fase crucial, ocupa um lugar cimeiro na agenda do AKEL e na preparação do seu próximo congresso que terá lugar durante o presente mês de Dezembro.
Nesse sentido, o AKEL considera que é necessário manter «uma atmosfera de unidade a nível interno para reforçar a posição negocial do Presidente da República», na busca de uma solução para o problema cipriota.

Brasil

O Partido Comunista do Brasil recebeu o X Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários, recentemente realizado. A iniciativa, segundo José Reinaldo, secretário de Relações Internacionais do PCdoB, teve um grande êxito: «Tínhamos uma ordem de trabalhos muito ampla e fomos confrontados com o eclodir da crise do sistema capitalista. Partimos da análise da crise para os problemas do mundo contemporâneo, concluindo que não se trata de uma crise conjuntural mas sim estrutural. Daqui resultou uma discussão muito rica, que deu origem a um documento de grande significado: “Proclamação de S. Paulo – o socialismo é a alternativa”. Naturalmente, essa alternativa passa por plataformas de resistência em cada país, em função das respectivas condições de luta. O encontro, realizado pela primeira vez em território americano, solidarizou-se também com Cuba socialista e com os processos em curso na América Latina e Caribe, tão diversos nas suas orientações estratégicas mas tão convergentes na afirmação de uma luta anti-imperialista.»
Quanto à situação no Brasil, Reinaldo classifica-a de «progressiva», pois apesar de ter um «governo democrático e defensor da soberania nacional», não se libertou ainda das «engrenagens que lhe foram impostas pela capital financeiro internacional», pelo que é preciso lutar para que «se afirme por um caminho anti-imperialista, de aprofundamento da democracia, de participação popular».

Venezuela

«Nas recentes eleições regionais e locais realizadas na Venezuela registou-se uma queda nos tradicionais níveis de abstenção, o que é importante para o processo revolucionário bolivariano», disse Carlos Aquino, do Bureau Político do Partido Comunista da Venezuela. «Votaram cerca de 65% dos eleitores, o que representa cerca de mais de um milhão de votos face ao referendo constitucional de há um ano. Ao mesmo tempo, a direita diminuiu os seus resultados, o que significa que as forças progressistas consolidam posições». O PCV, que participou nas eleições em aliança com Partido Socialista Unificado da Venezuela em 16 estados e nos restantes seis com outras candidaturas progressistas, aumentou o número de deputados regionais. «É certo que se perderam estados com muita população, como Caracas», refere Aquino, mas «as forças revolucionárias conquistaram o centro metropolitano da capital, onde está o poder do Estado». O PCV entende que o «retrocesso registado nalguns estados é uma mensagem do povo e dos trabalhadores às forças do processo revolucionário, no sentido em que não basta colocar a luta anti-imperialista como objectivo central, é preciso dar resposta

Índia

O Partido Comunista da Índia (Marxista) condenou os atentados terroristas que recentemente enlutaram o país e lamenta as vítimas, incluindo entre as forças de segurança, que os mesmos provocaram, disse ao Avante! Tapan Sen, deputado e membro do CC daquele partido. «O que sucedeu, disse, é muito sério mas não é um fenómeno novo, tem vindo a acontecer nos últimos 10 anos; o que está por detrás disto é uma tentativa de desestabilização do processo democrático, de desviar a atenção das pessoas dos problemas concretos, de as empurrar para o conformismo». A Índia é um país com uma grande diversidade linguística, étnica, de alianças políticas, etc., sublinhou, «mas o povo indiano está unido apesar disso. Estes ataques visam estimular as diferenças, virar as comunidades umas contra as outras, o que representa um desafio para os comunistas e todos os democratas». O terrorismo «tem como caldo de cultura um vasto conjunto de factores negativos produzidos pelo capitalismo», refere Sen, mas «não é solução para os problemas cada vez mais graves que afectam o povo»; pelo contrário, todos estes atentados «têm a marca do imperialismo, até pela forma como foram planeados, e só podem visar a desestabilização do país». Por isso a luta principal do PCI(marxista) é para preservar a unidade nacional, não obstante a sua posição crítica face à política do governo, que não serve os interesses populares.

Líbano

Membro do CC do Partido Comunista Libanês, Mourhis Nahra começou por saudar o Congresso do PCP, partido «activo e solidário», expressando a convicção de que a luta dos comunistas e de todas as forças progressistas portuguesas são «parte integrante da luta do povo libanês e de todos os povos do mundo que se batem pelo socialismo nos respectivos países e por uma sociedade humana sem exploração do homem pelo homem». O Líbano anseia pela paz, mas está espartilhado entre o Estado sionista de Israel, os interesses imperialistas dos EUA no Médio Oriente, e um regime político confessional que «é fonte permanente de contradições internas e de divisões entre os trabalhadores, a juventude, as massas populares que têm os mesmos interesses». O Líbano «é um espelho das contradições» que se vivem na região, diz Nahra, sublinhando que para o PCL, partido laico, a pacificação e estabilidade do país passa por uma alternativa patriótica de libertação (o Sul do país continua ocupado por Israel), pela reforma do Estado – consagrando o seu carácter laico, democrático, de justiça social –, por uma lei eleitoral sem carácter sectarista confessional, e pela resolução dos graves problemas sociais fruto da política neoliberal (a dívida externa ascende a 60 mil milhões de dólares), da corrupção interna, da exploração levada a cabo pela oligarquia no poder.

Chile

A conquista da presidência em mais três municípios e o aumento muito significativo da votação do Partido Comunista do Chile são, para Guillermo Teiller, exemplos do reforço de posições comunistas no país.
Para o presidente do PC do Chile e candidato às próximas eleições presidenciais, presente nos trabalhos do XVIII Congresso dos comunistas portugueses, tal foi possível por duas razões fundamentais decorrentes da justa e acertada orientação definida pelo partido.
A primeira foi a permanente mobilização contra as políticas neoliberais do executivo liderado por Michelle Bachelet, a qual, tal como previa o PCC, «manteve o cunho das políticas anteriores, mesmo se aqui ou ali tenha procurado dar um timbre social». Exemplos significativos são as lutas em torno da revisão salarial e dos subcontratos, envolvendo trabalhadores em sectores tão importantes como o cobre, os serviços públicos, os pescadores salmoneiros ou os empregados das grandes superfícies e hipermercados.
A segunda foi o uso instrumental do acordo relativo à democratização da vida política no Chile, a qual, a concretizar-se, porá fim à segregação dos comunistas do parlamento e de outros órgãos do quadro constitucional vigente.

Colômbia

Tendo concluído recentemente o seu XX Congresso, o Partido Comunista Colombiano saiu da reunião magna com «revigorada confiança no partido e na luta política, social, e popular de massas, que é hoje a questão central no país», disse Jayme Cedano ao Avante!.
Para o membro da direcção do PCC e integrante da delegação daquele partido ao XVIII Congresso do PCP, a tarefa fundamental dos comunistas no actual contexto é a promoção da unidade entre todos os sectores políticos e sociais interessados na democratização da Colômbia e na derrota da orientação terrorista de Estado do governo de Álvaro Uribe.
Nesse âmbito, reveste-se de particular importância o reforço e influência dos comunistas e demais sectores progressistas no Pólo Democrático Alternativo, estrutura que deve conjugar a intervenção institucional e a de massas, consolidando as forças democráticas como alternativa de poder já nos actos eleitorais que se avizinham.
Nas últimas semanas, recordou Cedano, têm sido os indígenas da Colômbia a tomar a dianteira do protesto, mas importa não esquecer as vigorosas mobilizações dos trabalhadores, dos assalariados rurais, dos funcionários públicos, dos jovens e dos estudantes, demonstrações da disponibilidade para a luta num contexto de crise capitalista mundial e falência do projecto neoliberal de Uribe, frisou.

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