As dificuldades económicas causadas pela Covid-19 servem de pretexto à Comissão Europeia para colocar a sua mão protetora sobre os mercados financeiros. A pandemia é o pretexto para reduzir exigências de informação, instituídas após a crise financeira que rebentou em 2008; o pretexto para suspender e aliviar medidas que visavam tornar mais transparentes estes mercados, no contexto de uma maior regulação, que é, desta forma, relaxada à primeira oportunidade.

Curioso, ou talvez não, é o facto dos mercados bolsistas registarem maior volume de negócios e de transacções (e também maior volatilidade) durante a pandemia. Razão pela qual é no mínimo questionável a necessidade invocada de “recuperação dos mercados de capitais”.

Estes mercados não foram fustigados pela tremenda crise que hoje atravessamos, como o foram milhões de trabalhadores que ficaram sem trabalho e sem sustento, como o foram tantos micro, pequenos e médios empresários.

Todos estes, sim, carecem de uma proteção especial. Nenhum deles ganha com medidas deste tipo.

A pandemia veio deixar mais claro em que mundo vivemos. Em momentos como este, as águas ficam mais claramente separadas. Como dizia o outro “é o capitalismo, estúpido...”.