Intervenção de Bernardino Soares na Assembleia de República

Crise orçamental

Propostas para fazerem face à crise orçamental

Sr.ª Presidente,
Sr. Deputado Francisco Louçã,
Queria saudar a sua intervenção e começar por referir-me à questão do escândalo, do roubo dos recursos nacionais pelos grandes bancos internacionais, que, obtendo a baixas taxas de juro recursos junto do Banco Central Europeu, depois vêm emprestar aos Estados, e a Portugal em particular, montados na especulação dos mercados e das agências de rating, com juros absolutamente proibitivos que levam a que embolsem, sem nada fazerem, e de um dia para o outro, milhões e milhões de euros, centenas de milhões de euros que são património de todos
os portugueses e que não podemos deixar sair daqui.
Este é, aliás, um dos sinais fundamentais desta desgraçada construção europeia, que é sempre para favorecer os mercados financeiros, sempre para favorecer os grandes grupos económicos europeus e as potências mais fortes da União Europeia.
E aqui, no nosso país, o que temos como possibilidades, do PS e do PSD e dos seus comentadores de serviço, dos seus justificadores de serviço, que pululam por toda a
sociedade portuguesa a dar palpites sempre no mesmo sentido? São as mesmas políticas de sempre. Como se houvesse grandes divergências…
Pergunto-lhe, Sr. Deputado Francisco Louçã, se considera que há grandes divergências nas medidas de política que agora se querem aprovar entre o que o PS e o PSD propõem; se considera que estiveram ou não de acordo com o corte, o roubo dos salários que já se fez este ano, em 1% e 1,5%, e que, porventura, se pode vir a repetir — talvez seja esse um dos anúncios de hoje tarde; se não considera que o PS e o PSD estiveram de acordo em relação ao roubo nas prestações sociais de dezenas de milhares de pessoas que estão a ver cortado o seu subsídio social de desemprego, o seu abono de família, o seu subsídio de maternidade por causa das injustas regras que foram aprovadas por aqueles dois partidos; se não considera que é verdade
que, com a quebra do investimento, estamos a dar mais uma machadada na nossa economia; se não considera que é verdade que o PS e o PSD estão de acordo em continuar a não tributar justamente a banca; se considera que não é verdade que aqueles partidos fecham os olhos a que PT e os seus accionistas não tenham de pagar, neste momento, nem 1 cêntimo dos 6000 milhões de euros de mais-valia que fizeram da venda da Vivo no Brasil.
Num dia em que o povo português também se manifesta, como outros povos noutros países da Europa, contra estas políticas, contra este caminho, pergunto, Sr. Deputado Francisco Louçã, se podemos continuar a aceitar uma política económica que, em lugar de promover o emprego, promove o desemprego, se podemos continuar a aceitar uma política económica em que, em vez de ser a economia a matar o défice, é o défice a matar a economia!

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