Intervenção de Miguel Tiago na Assembleia de República

Conferência de Cancún, sobre alterações climáticas

A ausência de resultados na Conferência de Cancún, sobre alterações climáticas

Sr. Presidente,
Srs. Deputados,
Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia,
Aproveito para, em nome do PCP, dar nota, também ao Sr. Deputado Renato Sampaio, de que o PCP também apresentou um projecto de resolução para acudir aos danos e às necessidades das populações afectadas na região centro e esperamos, Sr. Deputado, que não suceda o que aconteceu no ano
passado, nomeadamente em Alcanena e Santarém, onde foram prometidos apoios que até hoje não
chegaram…! Esperemos que, desta feita, o Governo seja capaz de acudir, efectivamente, aos problemas das populações.
Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, sobre a sua intervenção, eu gostava de colocar algumas questões e, antes de mais, dizer-lhe que há uma inteira convergência, principalmente com a última parte da sua intervenção, no que toca aos efeitos da política que este Governo tem vindo a conduzir em termos de gestão do território e das actividades.
O Sr. Deputado Renato Sampaio acabou de nos dizer que este Governo tem tido um papel
«importantíssimo» no combate às alterações climáticas. É, Sr. Deputado!, é a pagar licenças de emissão de
dióxido de carbono, o que não evita sequer que se emita nem mais uma tonelada de dióxido de carbono…!
Já agora, Sr. Deputado Renato Sampaio, pergunto-lhe se esse combate não se faz, antes, através de uma
política de generalização do transporte público? Não é através de uma política de ocupação sustentada do
território? Ou é através da litoralização total do País, concentrando as pessoas nas cidades?
Ou é através do desmantelamento do aparelho produtivo? Ou da generalização da importação, nomeadamente dos bens perecíveis e de consumo?
Sr. Deputado, se a solução — e, Sr.ª Deputada, aproveito para lhe colocar esta questão — residisse na
constituição de mercados de licenças de emissão de gases com efeito de estufa, porque é que não se vê
nenhuma melhoria, tendo em conta que na Europa existe um mercado a funcionar desde 2005? Aliás, não só não se alcançam as metas de redução como a Europa continua a poluir cada vez mais!..
Srs. Deputados, é o momento de rompermos com este discurso falso, que parte do princípio de que é
possível harmonizar as necessidades das pessoas com a selvajaria total das privatizações da água, das
energias, com a total delapidação da Natureza, dos recursos, com a importação, com a destruição do aparelho produtivo nacional, e fingir que andamos muito preocupados com o ambiente!!
O PS diz-nos aqui que anda muito preocupado com o ambiente, mas, depois, generaliza o cultivo de
organismos geneticamente modificados, destruindo a agricultura tradicional. É o PS, que diz estar preocupado com as alterações climáticas, que destrói a ocupação do interior e obriga as pessoas a ocuparem a faixa litoral, concentrando toda a gente nas grandes cidades, em grandes centros urbanos, recorrendo, cada vez mais, a transportes que usam os tais combustíveis que são a base da poluição atmosférica!!
É, pois, preciso romper com esta ideia de que existe possibilidade de harmonizar o capitalismo com as
necessidades das pessoas, com as necessidades da Natureza — é porque não podemos satisfazer as
necessidades das pessoas sem satisfazer as da Natureza!!

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