Intervenção de Bruno Dias na Assembleia de República

CDS faz ataque cerrado aos direitos dos trabalhadores

Perante o ataque mais reaccionário por parte do CDS ao direito à greve, Bruno Dias acusou esta bancada de fazer um discurso igual ao que há 50 anos atrás era feito pelo fascismo. Será a luta organizada dos trabalhadores que derrotará as políticas e os partidos que promovem a exploração e o ataque aos direitos de quem trabalha.
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Sr.ª Presidente,
Sr. Deputado Hélder Amaral,
A abordagem que veio hoje aqui fazer sobre a luta dos trabalhadores e sobre esta greve dos trabalhadores marítimos e portuários, mais essas palavras que disse agora sobre a luta dos ferroviários, no fundamental, não se afasta daquilo que se dizia nesta mesma Sala há 50 anos.
V. Ex.ª trouxe aqui um discurso que é um direto descendente das diatribes que, nesta Casa, se faziam há 50 anos quando os trabalhadores portugueses se erguiam em luta e conquistaram, com as greves, a jornada de trabalho das 8 horas.
Havia, nesta Casa, quem dissesse aquilo que o senhor aqui veio dizer relativamente às greves, às lutas dos trabalhadores e aos seus efeitos para o bem-estar do povo e do País e para a estabilidade da Nação.
Quero aqui dizer ao Sr. Deputado Hélder Amaral, do CDS, ao falar da situação e das circunstâncias em que se encontram os trabalhadores ferroviários, nomeadamente os marítimos e os portuários, que fazem esta greve em defesa da própria segurança da operação portuária e das condições em que essas exportações são efetuadas, V. Ex.ª, hoje, estará sem saber do que fala, o que é grave, ou a faltar à verdade, o que é mais grave ainda.
E eu não acredito que se consiga ser tão ignorante sobre o que se está a dizer.
Portanto, é má-fé, é faltar à verdade e é desonestidade política pura aquilo que os senhores aqui vêm trazer.
Sr. Deputado, o problema que os senhores agora identificam e apontam foi criado por este Governo, porque esta luta, de que não há memória, nos portos e no mar deste País, esta greve e esta unidade que está a ser demonstrada pelos trabalhadores marítimo-portuários, é a resposta que fazia falta perante a proposta de lei, apresentada pelo Governo, de criar uma autêntica selvajaria no trabalho portuário.
Aquilo que vem sendo apresentado pela troica como uma medida necessária de liberalização total, de considerar que o trabalho portuário é pouco mais do que carregar pesos e acartar com as coisas para dentro dos navios, que é o que está na base da filosofia da proposta de lei que o Governo assinou, a rastejar, com a primeira caneta que lhe apareceu à frente e que está com medo de apresentar na Assembleia, é o que está na origem desta greve, Sr. Deputado!
E quando, numa atitude e numa conversa que me faz lembrar as descrições que os pais e os meus avós faziam sobre o papel dos bufos nas greves, o Sr. Deputado vem apelar a que o Governo tome medidas em relação a esta greve, pergunto do que é que está a falar. Do que é que está a falar e não tem coragem de dizer?!
Do que é que está a pedir que não tem coragem de nomear?!
Aquilo que nós exigimos é uma coisa muito simples: que Governo retire de uma vez essa ameaça insana, essa ameaça inconsciente, essa ameaça vergonhosa à própria segurança dos portos portugueses.
Termino, Sr.ª Presidente, citando que não é apenas contra os trabalhadores portugueses que o Sr. Deputado está a falar; é contra os trabalhadores portuários que, no dia 25 de setembro, determinaram e agiram com 1 hora de greve nos portos de Espanha, de França, da Bélgica, da Suécia, da Dinamarca, da Grécia, de Malta e de Chipre, em solidariedade com os portuários portugueses. Repito, com os portuários portugueses, Sr. Deputado! É disto que estamos a falar quando falamos da luta dos trabalhadores. Os senhores passam mas a luta vai vencer.

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