Sr.ª Presidente,
Sr. Deputado João Semedo,
Consideramos imperioso e imprescindível que se esclareça totalmente esta decisão de extinguir o espaço de opinião Este Tempo, na Antena 1, da RDP. E, a ser verdade o relato que veio a público por parte de um dos participantes nessa rubrica, o jornalista Pedro Rosa Mendes, que também está em causa na declaração política que nos trouxe, a ser verdade que houve determinações superiores da hierarquia da RDP para acabar com este espaço de opinião, em consequência do conteúdo e do sentido das opiniões expressas numa edição do programa, então, a situação é demasiado grave.
Da parte da RDP, fala-se numa alteração programada. Regista-se, entretanto, que, ao contrário do que muitas vezes acontece, não houve qualquer alteração de grelha de programação. O formato de emissão das manhãs da Antena 1 está praticamente igual. Qual é a diferença? Falta esta rubrica. Aliás, o jornalista em causa e, aparentemente, os restantes colaboradores desta rubrica terão sido informados pela RDP que a sua próxima crónica, a crónica seguinte, seria a última a realizar na Antena 1.
Ora, mesmo que se considere aceitável e corresponda à realidade a afirmação de que esta era uma extinção prevista e programada, o que suscita, no mínimo, algumas dúvidas é esta previsão tão atempada, traduzida nesta notificação tão apressada: «A sua próxima crónica é a última, nós é que já programámos isto há muito tempo».
Evidentemente que vamos participar e acompanhar o processo de audições que se realizarão na comissão parlamentar e cá estaremos para ver que informações, que testemunhos, que desmentidos e que verdade se vai apurar destes relatos e da participação das pessoas que vão ser ouvidas.
Mas isto faz lembrar não um mas vários momentos de particular má memória, de sucessivos governos, ao longo de décadas, neste País. Já foram aqui citados alguns.
Gostaria de dizer que esta discussão é indissociável do problema do controlo e do condicionamento da informação — e, neste caso, à opinião na comunicação social — por parte do poder político e económico; é indissociável, em muitos casos, da precariedade e das condições de trabalho dos profissionais da comunicação social; é indissociável da apropriação pelo poder económico, e sobre o poder político que a ele se submete, destas lógicas que deveriam ser de comunicação de serviço público, de apuramento da verdade, de serviço à população e não de serviço a interesses particulares ou económicos ou político-partidários.
Nesse sentido, Sr. Deputado, não considera que estamos perante a tradução concreta ou, melhor, a eventual tradução concreta, neste tipo de casos graves e preocupantes, de um problema mais amplo e mais grave que se está a verificar há demasiado tempo na comunicação social, no nosso País?