Sr.ª Presidente,
Sr.ª Deputada Catarina Martins,
Em primeiro lugar, gostava de cumprimentá-la pelo tema que aqui nos trouxe: a infame campanha da Jerónimo Martins/Pingo Doce, embora não tenha sido esse o acontecimento que mais marcou o dia de ontem.
É que, felizmente, o acontecimento que mais marcará o dia de ontem é, precisamente, o facto de terem sido — e de o termos presenciado, ontem — as maiores comemorações do 1.º de Maio dos últimos anos, as mais participadas, as mais mobilizadoras e as mais reivindicativas.
Mas também por isso mesmo é que esta campanha, esta ação do Grupo Jerónimo Martins/Pingo Doce é particularmente grave e ofensiva, porque é ideológica, como bem referiu, porque é uma campanha, mais do que de publicidade, de manipulação ideológica e de intervenção política, utilizando uma marca comercial para fazer intervenção política.
O Grupo Jerónimo Martins fê-lo de forma quase provocatória, aliás, de forma manifestamente provocatória, e utilizando os direitos dos seus próprios trabalhadores para gozar na cara dos outros, em particular, numa altura em que largas camadas da população portuguesa estão tão fustigadas pela degradação das condições de vida, pelos baixos rendimentos, ficando, obviamente, mais sensíveis e expostas a estas campanhas. Isso ainda agrava mais o pendor ideológico desta ação e desta campanha do Grupo Jerónimo Martins!
Como sabe, Sr.ª Deputada, o PCP acaba de apresentar um requerimento solicitando a vinda do Ministro da Economia à Assembleia da República para prestar esclarecimentos sobre o papel do Governo.
Para além de reforçar todas as posições que a Sr.ª Deputada assumiu nesta Assembleia, coloco a seguinte questão: qual é o seu entendimento do silêncio manifestado por este Governo, não só perante esta ação da Jerónimo Martins/Pingo Doce como perante todo um conjunto de práticas que tem vindo a ser levado a cabo no sector da distribuição em Portugal?
De facto, como muito bem referiu a Sr.ª Deputada, ou estamos perante uma ação de dumping descarado e, portanto, ilegal do ponto de vista das leis da concorrência ou, então, a Jerónimo Martins anda a fazer muito mais dinheiro do que devia à custa dos parcos rendimentos dos portugueses e, também, da exploração dos seus trabalhadores.