Intervenção de João Oliveira na Assembleia de República

O balanço do estado da economia portuguesa

Sr.ª Presidente,
Sr. Deputado José Junqueiro,
Ouvimos com atenção a sua declaração política e queremos acompanhá-lo na caracterização e na conclusão de que esta política do Governo é uma política sem futuro, é uma política que não aponta futuro para o País.
Realizando-se, aliás, este debate hoje, na véspera da discussão do Orçamento retificativo, que aponta para perspetivas de agravamento da recessão, de agravamento do desempego, de agravamento do endividamento do País — problema que era erigido como o alfa e o ómega da assinatura e da aplicação do pacto da troica e que, afinal, é hoje um problema mais greve do que era há dois anos —, bem como de novos e agravados assaltos aos rendimentos e às condições de vida dos portugueses, tal significa, obviamente, o reflexo de uma política que não pode ter futuro, porque os portugueses não a vão deixar ter futuro.
Este Governo e a sua política acabarão derrotados.
Sr. Deputado José Junqueiro, esta constatação, esta realidade obriga-nos a discutir não só a necessidade de travar este rumo e este caminho, de travar o passo e a política deste Governo como a necessidade de discutir qual o futuro que podemos ter diferente deste. Obviamente, aí confrontamo-nos com a necessidade de discutir uma política alternativa à deste Governo e, sobretudo, uma política alternativa à política que este Governo vai aplicando em nome do pacto com a troica.
Já sabemos que este é um elemento que separa o PCP do Partido Socialistas. Nós continuamos a entender — e julgamos que a realidade tem vindo a demonstrá-lo — que só através da rutura com o pacto da troica é possível encontrar um caminho diferente deste, porque, com mais ou menos austeridade, a consequência será sempre a mesma: será sempre uma consequência de afundamento nacional e de afundamento das condições e vida dos portugueses.
O Sr. Deputado José Junqueiro, na declaração política que proferiu, fez uma referência às tentativas de convergência e aos contactos que o Partido Socialista tem feito com outras forças políticas, nomeadamente com outros partidos com representação parlamentar e eu queria colocar-lhe algumas questões concretas.
Obviamente, é útil o contacto com os grupos parlamentares, com os partidos políticos no sentido de perceber as perspetivas diferentes ou convergentes, mas é preciso tomar decisões e apontar o caminho para onde se quer seguir. Ora, a questão que quero colocar ao Sr. Deputado José Junqueiro e ao Partido Socialista é precisamente essa: qual é o caminho que o PS quer seguir? Qual é a perspetiva de política que o Partido Socialista propõe para o nosso País? É a continuação do pacto da troica? É a perpetuação deste caminho que o Governo do PSD e do CDS nos aponta, ou é a sua inversão? E com quem é que o Partido Socialista pretende fazer esta política alternativa?
Sr. Deputado José Junqueiro, vou colocar-lhe uma questão da forma mais clara possível: foi anunciado que, entre hoje e o dia 9, o seu Secretário-Geral, António José Seguro, e o Presidente do CDS, Paulo Portas, estarão em Hertfordshire, no Reino Unido, na Conferência de Bilderberg. Ora, gostava de perceber se o Sr. Deputado, por acaso, tem alguma ideia sobre o que António José Seguro e Paulo Portas vão falar na Conferência de Bilderberg; e se tem ideia se é com o CDS que o Partido Socialista vai encontrar as condições para fazer uma política de esquerda.
Essa tem sido a afirmação que se tem colocado em confronto com o pacto da troica.
Queremos saber, pois, se o Partido Socialista quer verdadeiramente optar por uma política de esquerda, uma política alternativa à deste Governo, se está a pensar fazer essa política de esquerda com o CDS e se, eventualmente, é esse o tema da discussão entre António José Seguro e Paulo Portas, nessa conferência do capital internacional, que é a Conferência de Bilderberg, que vai decorrer nos próximos três dias.

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