sg20060319

Almoço-Comício em Serpa - Intervenção de Jerónimo de Sousa, Secretário-geral do PCP

Intervenção
de Jerónimo de Sousa, Secretário-geral
do PCP

Amigos
e Camaradas:

Aqui
estamos a celebrar os oitenta e cinco anos de vida do nosso Partido,
a comemorar o aniversário do Partido com a consciência
da nossa própria razão de ser, com a convicção
dos nossos ideais e objectivos, com o orgulho do nosso passado e da
história de 85 anos de luta ao serviço dos
trabalhadores, do povo português e de Portugal a lutar no
presente, a pensar e a acreditar, com confiança e determinação
no futuro do Partido, da democracia e de Portugal.

Enganaram-se
todos aqueles que esperavam ver-nos desiludidos, desanimados,
abandonando objectivos e ideais, deixando cair o sonho, o projecto
político, a acção revolucionária.

Enganaram-se
todos aqueles que, confundindo desejos com realidades, determinaram,
nos seus escritos, sentenças e profecias, o “definhamento
irreversível” do PCP.

85
anos é um longo e complexo percurso carregado de profundas
transformações da realidade.

E
por isso não temos dúvidas que se o Partido se tivesse
quedado imóvel no pensamento e na acção, teria
morrido ou ficado reduzido à insignificância.

E
se o comemoramos com esta pujança e confiança foi
porque aprendeu com Marx, Engels e Lénine, com a revolução
de Outubro e a experiência revolucionária de comunistas
de outros países.

Mas,
simultaneamente, aprendeu também com a sua própria
reflexão, a sua própria experiência, ao longo de
décadas, enriquecendo o seu pensamento teórico, os seus
objectivos, a sua acção prática, procurando
respostas novas perante novas situações.

Respondendo
à situação concreta de Portugal, assumindo
lições e ensinamentos aprendidos em tantas e tantas
lutas e batalhas, o nosso objectivo e projecto de sociedade deixaram
de obedecer a modelos, forjando, desenvolvendo e cimentando a
identidade própria deste Partido Comunista Português.

Lutas
e batalhas sempre em defesa dos interesses e direitos dos
trabalhadores e das massas populares.

Lutas
e batalhas pela liberdade e a democracia. Lutas e batalhas em defesa
do interesse nacional, da independência e da soberania.

Lutas
e batalhas inspiradas pelos ideais da solidariedade
internacionalista.

A
história de 85 anos do PCP é aquela que desde a sua
fundação até hoje está expressa na sua
acção e na sua luta, que está inscrita nas suas
decisões, resoluções e Programa, história
que é a própria história da luta da classe
operária e dos trabalhadores.

Quem
estude a história do Partido encontrará em todo o seu
percurso uma característica essencial da luta do Partido,
antes e depois de 25 de Abril: é ter sempre estado
inseparavelmente ligado à defesa dos interesses dos
trabalhadores e à sua luta, por sua vez inseparável da
actividade e da luta do Partido.

Não
significa esta característica marcante que o Partido tenha
intervido e intervenha na sociedade como força do trabalho mas
também com as forças da inteligência e da
cultura, que contasse e conte nas suas fileiras militantes oriundos
de diversas camadas e classes sociais, que abraçam a causa do
socialismo, que tenha surgido como dinamizador de grandes movimentos
democráticos unitários.

Mas
o que foi e é determinante e predominante no quotidiano da
acção do Partido e se transformou em duas realidades
inseparáveis: luta dos trabalhadores - luta do PCP.

Celebrando
os 85 anos de vida do Partido e 75 anos do nosso “Avante!”,
homenageamos todos os seus construtores que ao longo das suas vidas e
até ao momento da sua morte se mantiveram firmes no seu ideal
comunista.

Mas
julgo que, sem esquecer ninguém, é justo que lembremos,
neste aniversário que pela primeira vez não conta com a
sua presença, o nome do camarada Álvaro Cunhal.

Reafirmamos
aqui, neste aniversário em Serpa, que estamos a cumprir hoje,
e tudo faremos para realizar no futuro, o seu mais fundo sonho e
ideal – de prosseguir todos os combates para que este Partido se
mantenha como Partido com uma natureza de classe, Partido de projecto
revolucionário na luta pelo socialismo.

Comunistas
do nosso tempo, firmes no nosso ideal, usando o marxismo-leninismo,
com a concepção do seu permanente enriquecimento pelo
estudo de novas situações e fenómenos,
processos, conhecimentos e experiências, mas assumindo-o como
instrumento insubstituível para a análise das
realidades, procuramos a explicação das novas
realidades do mundo e do país em movimento.

Nós
sabemos do peso das mutações nos sistemas económicos
e na sua interacção e relacionamento, dos efeitos das
derrotas do socialismo e da actual relação de forças,
da inevitabilidade objectivamente considerada do aprofundamento da
divisão internacional do trabalho, das alterações
na composição social da classe operária, da
necessidade de encontrar novas formas de cooperação
internacional nas esferas científica e tecnológica, da
tarefa crucial de toda a humanidade em defesa da paz, da busca de
soluções para problemas ecológicos e ambientais,
da fome, da doença, do esgotamento dos recursos naturais, da
explosão demográfica que colocam novas exigências
de cooperação entre os povos e os Estados
independentemente do seu sistema social ou regime político.

Mas
também sabemos que tais realidades não eliminam os
antagonismos de classe nas sociedades capitalistas e a luta de
classes como motor da evolução social e política.

Sabemos
que o mundo hoje está mais inseguro, mais injusto, menos
democrático.

E
os que abdicam desse instrumento de análise e guia de acção
consubstanciado nas teses de Marx, Engels e Lénine,
precipitaram-se na avaliação conducente ao dogma de que
o mundo caminhava para um sistema socioeconómico único,
que era possível civilizar e democratizar o capitalismo, que o
Estado estava a perder a sua natureza de classe, que a luta de
classes deixou de ter sentido, logo deixava de existir a necessidade
dos Partidos Comunistas.

Procuramos
sempre aprender com a experiência dos outros.

Mas
bem bastava verificar a realidade portuguesa, os perigos que decorrem
para a democracia motivados por políticas de classe levadas
por diante nas últimas décadas para avaliar a justeza
da nossa análise!

Realidade
marcada pelo mais longo ciclo de estagnação económica
desde o 25 de Abril, pela maior taxa de desemprego dos últimos
20 anos, por uma obscena concentração da riqueza nas
mãos de uns poucos e consequentemente por um inaceitável
aumento das desigualdades sociais e regionais.

Realidade
que o governo do PS sublinhou negativamente, aprofundando os seus
traços mais sombrios, neste seu primeiro ano de governação,
com a aplicação de uma política que, no
fundamental, pouco se distanciou da executada pelos governos dos
partidos da direita.

No
passado domingo, naquela iniciativa do PS destinada a assinalar a
efeméride de um ano de governo, José Sócrates,
proclamou o ano de 2005, como “ um ano de viragem” - viragem na
confiança e no rumo do país.

Apetece-nos
perguntar-lhe: viragem para onde e em que sentido?

Amigos
e Camaradas:

De
que viragem fala José Sócrates?

Não
está a falar, certamente, do mais grave dos problemas sociais
que Portugal e, aqui, particularmente o Alentejo enfrentam – o
desemprego – que, contrariando todas as suas promessas, conheceu um
novo agravamento neste ano de 2005 que passou.

Hoje
600 mil pessoas conhecem a amarga realidade do desemprego em
Portugal.

Não
são apenas os que as estatísticas mostram, mas também
aqueles que cansados de procurar e de esperar por uma chamada do
Centro de Emprego já se auto-excluíram do apuramento
estatístico.

Não
está a falar, certamente, na política fiscal, já
que 2005 foi mais um ano dourado para o capital económico e
financeiro, particularmente para a banca, que mais uma vez não
pagou os impostos de acordo com os lucros correspondentes.


o BCP, o banco que mais lucros teve em 2005, aquele que agora
anunciou, com direito a um directo nos quatro canais de televisão,
uma nova OPA sobre o BPI, como se fosse a milagrosa operação
que vai salvar o país e promover o desenvolvimento, pagou
apenas uma taxa efectiva de IRC de pouco mais de 10%.

Uma
taxa inferior àquela que paga qualquer trabalhador com um
salário colocado a meio da tabela do IRS e muito longe também
da taxa de 25% que qualquer pequeno e médio empresário
está obrigado a pagar de IRC.

Entretanto,
a viragem, mas para pior viram-na os portugueses com o aumento do IVA
e com o aumento de outros impostos indirectos, agravando a injustiça
fiscal e tornando a vida mais difícil aos portugueses de
menores rendimentos, ao mesmo tempo que se agravou a competitividade
da economia portuguesa nos mercados externos.

E
não está também, certamente, José
Sócrates a falar de uma viragem na distribuição
mais equitativa rendimento nacional.

Porque
2005 não foi apenas um ano dourado nos impostos para os
grandes senhores do dinheiro, foi também um ano dourado de
indecorosos lucros para os grandes grupos económicos e para a
alta finança que arrecadaram mais uma vez a parte de leão
do esforço realizado pelo todo nacional na criação
de riqueza.

Esta
semana foram tornados públicos os lucros de 2005 de um
conjunto de empresas cotadas na bolsa e conhecidas por empresas do
índice PSI 20.

Num
país que se diz em dificuldades e em crise. Num país
que tudo é pretexto para atacar os rendimentos e os direitos
de quem trabalha, ficámos a saber que os lucros de apenas 15
dessas empresas atingiram mais de 4 mil milhões de euros.

Mais
60% em média dos lucros de 2004.

E
nestas empresas não estão incluídos todos os
bancos, nem sequer a Caixa Geral de Depósitos. Só os 3
bancos que fazem parte deste rol das 20 empresas do PSI 20 (BCP, BES
e BPI) arrecadaram um lucro de 1 300 milhões de euros.

A
EDP, por exemplo, não satisfeita com os mil milhões de
euros de lucro em 2005, mais quase 300% do que no ano anterior, vem
já anunciar um forte aumento do preço da electricidade
para os consumidores domésticos para 2007.

O
lucro accionista é insaciável e não olha a meios
para impor os seus vontade, seja à custa dos consumidores,
seja à custa dos restantes sectores da economia nacional.

É
para este pequeno mundo dominado pela grande finança e os
grandes interesses económicos que o país trabalha e que
o governo decidiu reforçar concedendo-lhe um novo pacote de
privatizações de empresas altamente rentáveis.

Mais
uma medida que acrescenta poder ao seu já forte poder
existente e que leva crescente subordinação do poder
político cada vez mais condicionado pelas malhas que o grande
capital tece e que lhe garante o domínio dos instrumentos
essenciais de exploração dos trabalhadores, do povo e
dos diversos sectores da economia nacional.

Mas
também não estaria José Sócrates,
certamente, a falar de viragem na melhoria das condições
de vida dos trabalhadores e do povo, quando 2005 e também já
2006 novos e mais brutais aumentos dos bens e serviços
essenciais, ao mesmo tempo que o seu governo promovia e apelava a uma
generalizada política de contenção salarial.


se esqueceu Sócrates dos aumentos de 10% do pão, de
8,3% no gás, da electricidade e dos transportes, entre outros,
enquanto as reformas se mantêm muito abaixo do aceitável
para garantir condições mínimas de vida.

José
Sócrates quer fazer esquecer o brutal ataque que desencadeou
contra os trabalhadores da função pública e do
poder local.

Ofensiva
contra os seus salários, que pelo sexto ano consecutivo vêm
diminuir o seu poder de compra, mas também contra as carreiras
e as condições de aposentação e até
próprio direito ao trabalho com a criação de
novas formas de desvinculação.

José
Sócrates quer fazer esquecer que em vez da prometida reposição
dos direitos dos trabalhadores e das suas organizações,
nomeadamente o direito à contratação colectiva
postos em causa com a aprovação do novo Código
de Trabalho pelo anterior governo do PSD/CDS-PP, adiou e continua a
resistir à necessidade da sua urgente revogação.

Também
aqui não se trata de viragem, mas de continuidade.

Como
de continuidade se trata, o ataque contra o estatuto de trabalhador
da Administração Pública que o governo do PS
prepara com a introdução, em larga escala, do regime de
contrato individual de trabalho.

Mas,
porventura poderá José Sócrates falar de uma
viragem e mudança em relação às políticas
restritivas de Ferreira Leite e Bagão Félix que
conduziram o país para a estagnação e a
recessão?

Também
não, camaradas.

O
que vimos foi a economia portuguesa a chegar ao fim do ano 2005
completamente estagnada e com um crescimento inferior ao de 2004, em
resultado da aplicação das mesmas políticas de
obsessão pelo défice das finanças públicas
dos governos de Durão Barroso e Santana Lopes.

É
por isso que a viragem que José Sócrates anuncia é
apenas uma miragem, um artifício propagandístico para
iludir a dura realidade de mais um ano de agravamento dos problemas
nacionais.

E
porque estamos no Alentejo. E porque todos os dias se anunciam
medidas que penalizam gravemente as populações do
interior, poderá José Sócrates falar de viragem
nas políticas de desenvolvimento regional e de combate à
desertificação do interior?

É
de viragem e mudança que se trata quando se anunciam ou
decretam encerramentos de escolas, urgências dos centros de
saúde e maternidades que atingem particularmente as populações
do interior?

Em
boa verdade não é!

Na
saúde o que estamos a ver é uma preocupante e grave
ofensiva em relação ao direito constitucional à
saúde de todos os portugueses.

A
semana passada o governo veio anunciar o aumento das taxas
moderadoras que, para as situações de urgência,
serão agravadas de 23%.

Esta
semana foi o encerramento de mais maternidades e na calha está
o encerramento de centenas de Serviços de Atendimento
Permanente nos Centros de Saúde e a sua privatização.

Hoje,
uma família de três pessoas já paga em média
cerca de 1500 euros, cerca de 300 contos, por ano, para falar na
moeda antiga, de comparticipação nas despesas de saúde,
uma das mais altas da União Europeia e, entretanto o Ministro
da Saúde vem dizer que o actual do Serviço Nacional de
Saúde “não é eterno” e que os portugueses
têm que se preparar para pagar mais pelos cuidados de saúde.

O
que está em curso é a clara intenção de
por fim ao carácter tendencialmente gratuito do Serviço
Nacional de Saúde, repetindo o PS, o que fez com o PSD no
passado, quando reviu a Constituição da República
e que fragilizou o direito à gratuitidade dos serviços
de saúde.

É
esta a viragem e mudança que o governo do PS anuncia agora aos
portugueses, mas sobre a qual nada disse quando há um ano lhes
pedia os votos.

Na
segurança social depois do alarido alarmista em torno da
degradação da situação financeira da
Segurança Social e das ameaças de não haver
dinheiro para o pagamento das reformas no futuro, o que vimos foi o
PS a recusar as nossas propostas de solução que
apresentámos.

Nós
não nos limitamos a denunciar que o que o governo quer com a
campanha alarmista é cortar nos direitos e nas prestações
dos trabalhadores e nas condições de reforma com a
campanha alarmista.

Apresentamos
também propostas de solução. Foi o que aconteceu
na passada quarta-feira na Assembleia da República com as
nossas propostas que visavam garantir a diversificação
das fontes de financiamento da segurança social.

A
recusa do PS e dos partidos da direita, do PSD e CDS-PP dessas
propostas só confirma a sua aposta na desresponsabilização
do Estado e dos contribuintes mais poderosos na garantia do direito à
protecção social dos que vivem do seu trabalho e dos
que se reformam em situações de ausência de
recursos devidos a doença, desemprego ou devido a invalidez ou
velhice.

O
que se está a passar com o Ministério da Agricultura é
também uma vergonha.

Por
razões que se prendem com as restrições
orçamentais presentes no Orçamento rectificativo para
2005 e no Orçamento do Estado para 2006, que o PCP denunciou,
o Governo decide agora, por falta de cabimento orçamental, não
pagar apenas algumas das medidas agro-ambientais de 2005, já
contratualizados com os agricultores, nem aceitar novas candidaturas
em 2006.

Na
base de legislação agora invocada, que limita
logicamente essas ajudas às dotações
orçamentais, o Governo não paga nem faz novas
candidaturas, manipulando os dados do problema para suportar as suas
decisões.

O
Governo faz por esquecer que deveria ter garantido pelo Orçamento
Rectificativo em 2005 e pelo Orçamento do Estado para 2006 as
verbas necessárias para que as Ajudas das medidas
agro-ambientais pudessem ser pagas em 2005 e permitissem novas
candidaturas em 2006.

O
ministro vem agora dizer, em defesa da sua decisão, que são
escandalosas algumas das Ajudas porque atribuem milhões de
euros a uns poucos grandes agricultores.

Desculpas
de mau pagador. O escândalo é evidente e há muito
que o PCP, e só o PCP, denunciou as alterações
nos critérios para a aplicação dessas Ajudas,
que foram decididas pelo ministro Capoulas Santos do anterior governo
do PS ou pelo governo PSD-CDS!

Mas
então porque não alterou o Governo e o Ministério
da Agricultura essa legislação em 2005, como aliás
o PCP em tempo oportuno sugeriu? Não teve tempo para o fazer?

Não!
O Governo e o ministro da Agricultura quiseram continuar «amigos»
dos grandes proprietários do Alentejo e Ribatejo, não
mexeram na legislação, e agora, porque lhes faltam as
verbas do Orçamento do Estado, vêm reclamar do
escândalo…

Mas
esta situação torna também mais evidente a
perversidade do Pacto de Estabilidade, que o PCP tanto tem criticado.

Pacto
que impõe restrições ao Orçamento do
Estado e que agora impede os agricultores de receberem ajudas!

Por
cada 15 cêntimos que o Governo não pode pagar do
Orçamento do Estado
, deixam os agricultores de receber 85
cêntimos de fundos comunitários!

Mas
outros problemas, com causas que se filiam na mesma orientação
política de obsessão pelo défice do Orçamento
do Estado, permanecem ou agravam-se na agricultura portuguesa.

A
suspensão do pagamento dos apoios à electricidade
verde.

Os
enormes atrasos no pagamento de outros programas de ajudas, como o
AGRO e o AGRIS.

As
crescentes dificuldades da agricultura familiar em suportar as
contribuições para a Segurança Social.

Daqui
responsabilizamos, mais uma vez, o Governo pelo que vier a suceder (e
oxalá não suceda) nos próximos verões.

O
Governo não pode deixar de tirar ilações de os
agricultores portugueses terem tido, em 2005, uma das maiores perdas
de rendimento da União Europeia: menos 11% relativamente a
2004!

Os
agricultores portugueses não podem deixar de desenvolver as
suas lutas, que quero saudar, em defesa dos seus interesses, dos
interesses da agricultura portuguesa.

Camaradas
e amigos:

Um
ano passado de governo do PS não há viragem, nem
mudança.


a mesma desastrada e perigosa política que tem conduzido o
país à ruína e à regressão
económica e social.


o mesmo esfumar das promessas eleitorais dos governos passados.


o mesmo dar o dito por dito não dito em relação
à mudança prometida.

Disse,
o primeiro-ministro que o pior está para vir.

Nem
o precisava de dizer, porque a manter-se o mesmo rumo, a mesma
política deste último ano, os portugueses não
podem esperar outra coisa, com ou sem a “cooperação
estratégica” de Cavaco Silva que na recente reconstituição
do Conselho de Estado já deu o esclarecedor sinal da natureza
e objectivos da sua política no exercício da
Presidência.

Ao
romper com a prática anterior que garantia a representação
dos principais partidos no Conselho de Estado, Cavaco Silva deixou
clara a sua intolerância e quanto falsa era a postura de
independência que calculistamente transparecia no seu discurso
eleitoral e na sua propaganda.

É
ele próprio, que com esta decisão acabou com aquela
conversa de ser o “presidente de todos os portugueses”. Pode ser
o presidente de Portugal. Não é o presidente de todos
os portugueses.

As
escolhas de Cavaco Silva, personalidades todas ligadas aos partidos
políticos que apoiaram a sua candidatura à presidência
são reveladoras do seu estreitíssimo critério de
escolha – o das cumplicidades partidárias e o do círculo
dos seus mais íntimos apoiantes.

O
“bloco central” político e dos interesses tem também
a partir de agora, para além nova solução de
“cooperação estratégica” Sócrates/Cavaco
Silva, o privilégio da exclusividade da representação
partidária no Conselho de Estado.

É
inspirado nesta nova visão da coabitação e de
“cooperação estratégica” dos grandes
interesses que José Sócrates nos vem dizer que a
“confiança está de regresso” e que “ o dever de
qualquer responsável político é o de lutar pela
confiança”.

E
“quem rejeita os sinais de confiança não está
a fazer oposição ao governo, está a fazer
oposição ao país”.

Esta
exigência de Sócrates não é apenas a
tentativa de responsabilizar os outros pelo mais que certo fracasso
da sua política é um inaceitável e
antidemocrático apelo ao conformismo e ao silêncio, à
aceitação resignada de uma política que está
longe de corresponder aos legítimos anseios e aspirações
dos trabalhadores e do povo.

Esta
exigência é a mais descarada das chantagens para quem
tem o dever de afirmar com a verdade o que pensa sobre a real
situação do país.

Mas
perante tanta insistência, talvez fosse necessário
primeiro perguntar: confiança em quem e em quê, de quem
e para quê?

É
o regresso da confiança para os cerca de 3000 que se fala
podem ser despedidos com a OPA do BCP sobre o BPI ou de outros tantos
milhares com a OPA de Belmiro de Azevedo à Portugal Telecom?

Ou
é o regresso da confiança para a especulação
bolsista que nestes dias escandalosamente já permitiu a alguns
ganhar mais a dormir do que qualquer pessoa a trabalhar toda a vida.

É
este dinamismo do mercado que nada cria, apenas transfere e especula,
mas que o governo aplaude, que, porventura, vai fazer fervilhar de
actividade a economia portuguesa?

Ou
é o regresso da confiança das taxas juro em alta para
travar o passo a qualquer tentativa de reanimação da
economia portuguesa e afundar ainda a mais a dívida pessoal e
colectiva dos portugueses?

Está
muito claro que a confiança que o governo quer e tem é
a do grande capital.

É
o regresso da confiança na possibilidade do assalto ao que
resta do sector público.

É
a confiança dos que apenas pensam viver à custa da
exploração dos trabalhadores e do povo.

Essa
não é a confiança que o país precisa de
volta!

Amigos
e camaradas:

O
país não está condenado a prosseguir esta
política de desastre nacional ao serviço dos grandes
interesses.


outro caminho. Outro caminho que pressupõe uma ruptura
democrática e de esquerda, uma real viragem de rumo na
política nacional.

É
preciso e necessário romper com o colete-de-forças que
amarra a democracia portuguesa e bloqueia o desenvolvimento do país.

E
se é verdade que com esta eleição de Cavaco
Silva, com esta política do governo ficou mais difícil
essa ruptura e a alternativa necessária, é no
desenvolvimento da luta e na convocação dos
trabalhadores, das populações que preparamos o chão
e erguemos os alicerces das alternativas.

É
preciso e necessário abrir a luta em todas as frentes, mas
essencialmente é necessário apoiar e desenvolver a luta
dos trabalhadores e do povo.

Luta
que é um elemento decisivo para obrigar o Governo a
recuar nas suas medidas injustas e desastrosas.

Luta
que prossegue já no próximo dia 1 de Abril com a grande
jornada de luta promovida pela CGTP-IN.

Mais
do que nunca a sua luta é necessária para sacudir as
teses e os fabricantes do conformismo e das inevitabilidades.

Este
é também o momento de reafirmarmos a nossa
característica de sermos um Partido patriota e
internacionalista.

Reafirmarmos
que fomos, somos e seremos solidários para com os comunistas,
as forças revolucionárias e progressistas, com os que
se opõem ao imperialismo, que insistem em construir o
socialismo, solidário com Cuba terra livre na América,
com o povo palestiniano e o seu direito inalienável a um
Estado independente.

Reafirmarmos
que continuaremos a lutar por uma política digna de Portugal
de Abril, uma política de independência nacional, de
relações de amizade e cooperação
diversificadas com todos os povos do mundo.

Continuaremos
a luta contra o envolvimento de Portugal na estratégia
expansionista e agressiva do imperialismo, quer se trate dos Estados
Unidos, da NATO ou da União Europeia, e contra a participação
de militares portugueses no Iraque e no Afeganistão.

Aqui
estamos, inquietos mas simultaneamente muito confiantes, animados por
aquela esperança que não fica à espera, prontos
para os combates quotidianos, estimulados pelos bons resultados das
três batalhas eleitorais recentes que, demonstrando também
a esse nível, a falência e a falácia da tese da
inevitabilidade do definhamento do PCP, criaram melhores condições
para concretizar com êxito o objectivo de considerar o ano de
2006 como ano de reforço do Partido.

Ano
para agarrar e concretizar as decisões e orientações
do XVII Congresso no sentido de materializar o conceito integrado do
reforço da intervenção e reforço da
organização, direccionando a prioridade do nosso
trabalho para as empresas e locais de trabalho, prosseguindo e
concretizando a deliberação Sim, é possível
um PCP mais forte!

O
reforço orgânico do Partido é uma questão
crucial para preparar melhor o Partido nas suas respostas à
situação, para intervir e agir a todos os níveis
da sociedade, mas fundamentalmente lá onde pulsa o problema, a
aspiração, lá onde se trava e se desenvolve a
luta dos trabalhadores, da juventude e das massas populares.

Reforço
que é crucial lá onde residem as causas e os
destinatários principais da razão de ser deste Partido
Comunista, que resistiu e lutou o tempo que foi preciso, que continua
a interpretar o sonho mais avançado, ainda que milenário,
do ser humano, de libertação e emancipação,
que se afirma como um grande colectivo capaz de impulsionar os
avanços progressistas de que a sociedade portuguesa carece,
capaz de dar a sua contribuição para relançar e
reforçar o movimento comunista e revolucionário de que
os trabalhadores e os povos precisam, tendo como alternativa ao
capitalismo o socialismo.

85
anos é um tempo curto de qualquer processo histórico e
de vida dum povo.

Mas
é o tempo bastante para julgar da história, da luta e
da validade de um partido e do seu projecto.

Neste
fascinante percurso não ficamos isentos de erros, conhecemos
dificuldades e debilidades porque este Partido é uma obra
humana!

Mas
perante o povo e o país afirmamos com grande honra e
convicção: valeu e vale a pena ter este Partido, valeu
e vale a pena a sua história e a sua luta.

Valeu
e vale a pena olhar para o futuro com confiança, determinação
e esperança, porque perseguimos o ideal mais nobre da
emancipação e libertação da exploração
do homem pelo homem, porque queremos uma vida melhor para quem
trabalha, porque queremos um Portugal desenvolvido, de progresso,
independente, onde seja o povo a decidir.

Com
tranquilidade e orgulho queremos dizer ao povo português, com
aquela verdade que nos caracteriza, que temos um Partido Comunista
digno desse nome.