Declaração de voto de Ilda Figueiredo no Parlamento Europeu

Agenda europeia para a cultura num mundo globalizado - Declaração de voto de Ilda Figueiredo no PE

Neste relatório há aspectos muito contraditórios. Por um lado, uma
permanente tentativa de escamotear a realidade da evolução da Europa.
Não existe uma “herança cultural da Europa” única, ainda por cima como
referência de “humanismo, tolerância, democracia”, etc. Toda a história
cultural europeia, como toda a sua história em geral, não é construída
apenas de diversidade e admirável energia criadora e de progresso, mas
também de violento confronto antagónico, de intolerância, de múltiplas
linhas e contextos de dominação cultural. A herança única é uma ficção,
alimentada antes pelo eurocentrismo cultural (a Europa como “vanguarda”
e outros aspectos referidos, alimentada, hoje, pelo mito, repetido de
uma identidade cultural “europeia”).

Por outro lado, entretanto, a intenção política de afirmação autónoma
contém elementos positivos. Desde logo, porque essa afirmação autónoma
não é possível apenas no quadro de qualquer identidade cultural
“europeia”, mas no quadro da preservação de garantias de resistência ao
rolo compressor das indústrias culturais hegemonizadas pelos EUA
(defesa da diversidade linguística e cultural; consideração das
indústrias culturais como um “espaço protegido em relação às regras
comerciais”; constatação de que a “balança comercial da UE é
desfavorável em matéria de bens e serviços culturais”).

Daí o voto de abstenção no final.

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